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quinta-feira, 2 de maio de 2013

A outra história da CICLOVIA


[ver imagem ampliada]
Saiu no jornal O Município uma matéria sobre a implantação de ciclovia e ciclofaixa em São João. Viram? Até os mais discretos devem ter vibrado e soltado fogos com a notícia. É uma vontade por muitos compartilhada. Queremos!

Por aqui, porém, ela não foi recebida com o mesmo entusiasmo. Essa não é a versão correta da história, talvez uma falha jornalística? Ao menos não é a nossa versão. Afinal, fomos nós que concebemos parte desse projeto.


Algo muito importante sobre planejamento urbano (e qualquer mudança que seja realizada em uma cidade) é que ela precisa ter um período de maturação. Nada acontece de uma hora para outra. E algo que as pessoas nem sempre se lembram, é que a profissão de 'urbanista' existe exatamente para designar pessoas aptas à fazerem projetos que interfiram na cidade.

Para que uma ciclovia seja feita, é preciso um período importante de pesquisa (de fluxo de pessoas, influência no trânsito, custos, legislação, área afetada) que necessitam do envolvimento de uma série de profissionais e de tempo para que os passos sejam tomados.

Conheça então a nossa versão da história:

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Em 2012, durante conversas entre o pessoal do Projeto São João e de ciclistas da cidade, incluíndo aí o Pedal Educa, ficou claro o desejo destes, muito bem representados por um abaixo assinado com 4 mil assinaturas, de fazer melhoras na infraestrutura urbana para abrigar caminhos seguros para o ciclismo. Porém, apesar das boas intenções, faltava um projeto.

Foram discutidas maneiras de levantar dados e informações sobre os trajetos mais utilizados, mais planos, mais viáveis. Fez-se um início de pesquisa através do site "Eu Apoio Bike" desenvolvido pelo Udo Matiello, que acabou conseguindo pouco apoio da população. Era preciso um projeto ainda maior, que despertasse interesse e participação.

Então surgiu a ideia: 'já que não vai dar mais para ir pelo acostamento da rodovia após a duplicação, precisamos abrir um caminho seguro para os ciclistas continuarem indo até Águas da Prata!'.
E começamos - ciclistas, entusiasmados e projetistas - a levantar as possíveis passagens. Aliás, usar esse caminho já era uma ideia lançada pelo Fritz Nagib algum tempo atrás, com a sugestão de um parque linear.

DIA 22/07/2012 - Uma pequena caravana composta pela Alice Abreu e Joana Conti, tirou um domingo ensolarado para fazer o trajeto entre São João e Águas da Prata a pé e identificar um caminho interessante para passar a ciclovia. O caminho beirando a estrada foi inicialmente descartado, pois o trajeto mais afastado desta se mostrava uma alternativa menos poluída e de maior segurança e contato com a natureza (mais tarde a Renovias nos informou sobre a falta de espaço para a ciclovia após a duplicação da rodovia. Seria preciso fazer algumas desapropriações se o projeto passasse por ali).

Foi feito o caminho pelos trilhos dos trens, que ficou registrado como o primeiro levantamento e esboço do projeto. Foram levantados pontos importantes como travessias, estreitamentos, locais alagadiços, potenciais de vistas, áreas da prefeitura que poderiam ser utilizadas para acrescentar 'lazer' à proposta, revitalizações, parcerias com proprietários, legislação. E foi considerado o uso do Bairro Alegre como local de início, como forma de reabilitação da área da estação ferroviária, que poderia servir para diversos propósitos turísticos. A partir dali a ciclovia iria até o bosque de Águas da Prata, podendo ser extendida em ambas direções por projetos complementares das prefeituras.

Esta primeira etapa está aqui:



Com o esboço do projeto em mãos e o abaixo assinado do movimento ciclista, começamos a marcar as reuniões. A primeira, aliás, não era exatamente sobre o tema, mas acabou ganhando espaço ao decorrer das apresentações.


DIA 17/08/2012 - Foi realizada uma reunião pública sobre a duplicação da estrada entre São João e Águas da Prata, promovida por uma parceria que envolvia diversos cidadãos de São João, que já haviam feito outros encontros para discutir o assunto. Nela estiveram presentes os prefeitos das duas cidades, a Renovias, representantes de ONGs e da mídia e um bando de outros cidadãos curiosos e imprecindíveis. O Projeto São João publicou a seguinte nota sobre a reunião:

"(...)
- o prefeito de São João, Nelson Nicolau, se comprometeu a fazer uma audiência publica em um mês sobre o Projeto de Duplicação da Rodovia São João - Águas da Prata, já que não ouve audiência publica antes da execução do projeto. Nesta audiência esperamos que estarão presentes a população, Artesp, Casa Civil, Renovias e prefeitos da cidade de São João e Águas da Prata.

o presidente da Renovias e sua equipe se colocaram a disposição para tirar duvidas sobre o projeto da duplicação, através de reuniões. Se comprometeram a estudar possíveis alterações e auxiliar no processo com projetos de engenharia e consultoria técnica, especialmente em um projeto de ciclovia entre as duas cidades. Informaram também que, em meados de setembro, o projeto encomendado pela Artesp para a alça viária de Águas da Prata estará pronto, trazendo a solução para o problema do fechamento do Bairro Alegre. Para a discussão deste projeto deverão ser feitas audiências publicas com a população envolvida.

A audiência pública pela prefeitura de São João nunca foi feita. O segundo item, da Renovias, foi atendido com muita simpatia pelos profissionais da empresa. Foi a partir daí que começamos a desenvolver - nas esferas política, técnica e financeira - a ideia de ter uma ciclovia entre as duas cidades .

DIAS 19/09 e 12/11/2012 - Aconteceram reuniões de viabilização do projeto, em que a arquiteta e urbanista Joana Conti, representando o Projeto São João, apresentou o esboço do projeto, as propostas cabíveis, vantagens e desvantagens e exemplos técnicos e de ciclovias próximas à trilhos pelo mundo afora. Foram levantadas questões de segurança e o depto. de Turismo de Águas da Prata trouxe a tona a possibilidade de voltarem a circular os trens turísticos entre as cidades - os dois projetos se complementariam muito bem.

Nas reuniões estiveram presentes representantes das duas prefeituras (de São João: depto. de Engenharia e Planejamento; da Prata: do Meio Ambiente, Turísmo e Engenharia - além dos então prefeitos de ambas cidades e da então vice-prefeita de São João); técnicos da Renovias e da FCA (empresa responsável pela circulação de trens no trecho), representantes do movimento ciclista (Udo Matiello e Beto Mançanares) e do COMTUR (Telma Salles).

DIA 27/11/2012 - Foi feita uma visita técnica à área em estudo quando ficou decidido, dentre as possibilidades antes apresentadas, o caminho que tentaríamos fazer. A FCA fez a gentileza de nos transportar pelos trilhos, e estiveram presentes representantes da Renovias, FCA, movimento ciclista, Projeto São João, prefeituras e CTUR.

O pessoal da Renovias ficou responsável por realizar um projeto básico para que a FCA pudesse pesquisar a viabilidade do trajeto escolhido junto à ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). Enquanto isso, as prefeituras e FCA ficaram responsáveis de encontrar alguma forma financeiramente viável de fazer um levantamento topográfico da área.

HOJE

Atualmente o esboço de um projeto básico (ainda sem o levantamento topográfico) já foi entregue à FCA que está em contato frequente para tirar dúvidas e ajudar no projeto, que para eles é algo tão novo quanto para nós. Afinal, quantas ciclovias no Brasil foram feitas perto de trilhos?

A prefeitura de São João disse ter um projeto para uma ciclovia na Av. Dr. Otávio Bastos (já que manteriam a Av. Durval Nicolau para caminhada), mas estamos aguardando o projeto desde a primeira reunião. E pelo que a matéria do jornal indica, a continuidade dos projetos não foi mantida com a troca de administração...

Uma outra fase, é a realização de reuniões públicas para a apresentação dos projetos e discussão, principalmente com as pessoas diretamente envolvidas, que estarão perto do trecho de implantação da ciclovia. A viabilização deverá ser satisfatória para o maior número de pessoas possível, se possível todas. A discussão é um princípio importante do urbanismo participativo. E a convocação da população para essas reuniões deveria, sim, ser feita usando todo o apoio da mídia!

Ao mesmo tempo, deverá ser feito o projeto técnico com dados sobre relevo, vegetação, impacto ambiental, legislação, segurança - dentre outros; que será complementado pelos dados trazidos pela população e pesquisas. Este projeto, já avançado, seria aprovado por diversas esferas administrativas.

Para que então seja implantado.

Nesse caso, optamos por uma solução de baixo impacto e custo, que traz grandes vantagens para os moradores de ambas cidades. Que não impermeabiliza o solo e promove a segurança dos ciclistas.

Mas ao que indica a matéria que saiu no jornal, esse projeto já foi esquecido e não é mais o mesmo. Porque aparece a intenção de ser retomado o trajeto próximo à rodovia. Porque a ciclofaixa será no Mantiqueira e só funcionará aos domingos de manhã (?), quando o trânsito já é calmo. Porque não foi explicada a intensão dessa ciclovia num âmbito urbano, de continuidade do projeto, de conexão da cidade, de criação de uma malha para ciclistas.

Porque, no fundo, me parece que este projeto servirá principalmente para acalmar o movimento dos ciclistas, oferecendo uma alternativa pouco eficiente e incompleta.

Esperamos apenas que dê tudo certo. Que não seja um projeto que 'manche' a imagem de ciclovia para a cidade. Que tenha muitos frequentadores ao domingo, para ser estendido à outros dias e lugares - e para que depois não se diga 'tá vendo, não dá certo. São João tem morro e ninguém anda de bicicleta'. Porque isso não é verdade, mas só um bom projeto poderá provar.

Porque um projeto como esse, que pede mudanças de hábitos e valores, que poderá alterar o funcionamento da cidade, precisa ser feito com muito cuidado e carinho. Com especialistas de diversos ramos, que não prometam sonhos mas busquem soluções completas. E que se utilizem de muito mais do que uma trena e algumas medidas, mas de uma base rica de dados e pesquisas. É um projeto necessariamente coletivo e livre de egos.

Aos projetistas que agora assumem a função de fazer a nossa ciclovia, meu grande respeito e bom trabalho.

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