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MOBILIDADE

“Facilidade em mover-se ou modificar-se”[i]



Discutir mobilidade em São João é uma tarefa um tanto complicada. Mobilidade, para muitos, significa unicamente sair de carro e poder ir onde quiser. Porém o uso de transporte individual é apenas uma das muitas variáveis do transporte e, urbanisticamente falando, uma das mais deficientes.

Mobilidade, ao meu ver, é a possibilidade de se locomover na cidade de diversas formas, tendo liberdade e opções ao fazê-lo. Vai muito além do estímulo ao consumo de certas empresas para que compremos carros, sempre o último modelo (história sem fim) e o mais caro para mostrarmos nosso ‘status’ social. “Não estimes o dinheiro nem em mais nem em menos do que aquilo que vale, porque ele é um bom servo e um mau amo” [ii]. Já é hora de enterndermos um pouquinho de como somos facilmente manipulados pelos que se preocupam unicamente em vender.

Exemplo de avenida com transporte misto.
Ter uma cidade eficiente significa possibilitar a todos seus moradores - independentemente de qualquer análise social - o direito de transitar com agilidade e qualidade. Observando as principais alterações urbanas realizadas nas últimas décadas em diversos países, a primeira grande mudança está diretamente relacionada ao fornecimento de uma melhoria na mobilidade.

A pergunta é simples: qual o objetivo, ter um carro ou chegar a algum lugar?

Sem dúvida, neste momento não é possível dizer que a melhor solução é deixar de usar transportes individuais, porque o transporte público está longe de um nível ideal. Em São João são poucas linhas, mal distribuídas e lentas. Faltam alternativas e facilitadores, como ciclovias. Além disso, onde estão as informações sobre as linhas, como sei qual pegar se não dependo dela diariamente? Falta educação e informação.


Algumas pessoas, nesse ponto, afirmariam: não estamos em Copenhagen! Ou na Holanda! Aqui é um país em desenvolvimento, falta dinheiro, cidade pequena etc. Pois então, dessa vez inspirem-se em Bogotá, na Colômbia, que em 3 anos construiu cerca de 300km de ciclovia, parques de todas as formas, áreas pedestriais com os melhores restaurantes, emprego e cidadania. Bogotá virou exemplo e influenciou outras cidades, trouxe um novo entendimento de urbanismo para quem ali mora. Ainda existem problemas, muitos, mas existem mudanças. Os moradores estão felizes e orgulhosos.
Se estiver com dúvidas se quer ler o texto que segue, assista esse vídeo e entenda: é disso que estamos falando.



É necessária uma revisão completa do serviço de transporte em São João. Uma revisão de base, reestruturação que possibilite novas formas de transporte. O transporte coletivo deve estar na base dessa alteração, trazendo qualidade que incentive seu uso por ser a melhor forma de se deslocar (não por qualquer ideologia ou dependência). É necessário haver alternativas que estimulem a atividade física e o lazer, como ciclovias - que poderão inclusive garantir a conexão com cidades próximas e áreas industrias.

Av. Durval Nicolau
É preciso, principalmente, considerar que o mais importante na cidade, e razão pela qual ela foi feita, são os seus habitantes e não os veículos.

Hoje em dia, quem anda pelo centro da cidade, por exemplo, são os carros - as pessoas se espremem em calçadas estreitas e precisam correr para não serem atropeladas. Além do alto índice de poluição sonora, de poluição por emissão de gases e de poluição visual.

Outra via que é uma das únicas opções para caminhadas é a Avenida Durval Nicolau (Avenida do Mantiqueira). Mas quem andou por lá recentemente deve ter percebido o incômodo causado pelo aumento do tráfego de veículos, as travessias perigosas entre as diversas ‘ilhas’ de caminhada, as árvores decapitadas que não conseguem crescer o suficiente para proporcionar uma via sombreada e que também sofrem com a velocidade/poluição/podas. Que potencial tem essa avenida!

Quase paralela a essa está a novíssima Avenida Octávio da Silva Bastos, que com certeza não é um exemplo de rua criada para as pessoas. Quem já passou  por lá caminhando? Inóspita e desinteressante, além de cortar o bosque, ainda conduz a um local que, para um desavisado, poderia se tratar de uma prisão. Mas não: são condomínios fechados com muros altos e baixa preocupação com a cidade. Verdadeiras ilhas particulares. Território urbano perdido. Ou não? Está em construção, veremos para onde levará.

Vale lembrar que o termo urbano significa “da cidade”, enquanto o termo urbanidade, alguém sabe o que significa? São poucos os que lembram: “Civilidade, cortesia”[iii].

Existem novos projetos de vias expressas para veículos, que também são importantes, mas será que não estaria na hora de investirmos em caminhos mais humanosA prefeitura de São João está realizando alguns estudos a respeito, como de acessibilidade no centro; e está atenta a questão do excesso de veículos. Aí está um caminho a se tomar.

Proponho essa reflexão: como humanizar os caminhos?
Por onde eu gostaria de andar? Por onde poderia deixar meu filho andar sem me preocupar? Andar de bicicleta, skate e patins? Qual seriam as vantagens de ir de transporte coletivo ao meu trabalho, se houvesse uma linha próxima à minha casa, com ônibus de qualidade passando em uma frequência suficiente? Qual seria a vantagem de não me preocupar com preço de gasolina, estacionamento, roubo de veículo, trânsito caótico, atropelamentos, revisões, IPVA, mecânico, limpeza, lei seca etc? Quais a vantagens de ler o jornal indo ao trabalho, ou de aproveitar o momento para um passeio de bicicleta? E de não ter que pensar se meu filho chegará em casa dirigindo com prudência depois de uma festa?

Afinal, o que é qualidade de vida?

Trago alguns exemplos de cidades que alteraram as bases da mobilidade e criaram espaços extremamente mais humanos e divertidos. Quando reduzimos os veículos, ganhamos espaços para a cidade, para o convívio.



Esmiuçando a Proposta
Transporte escolar movido a pedaladas
Onde: 
na cidade
regional
Categorias: 
ciclovias
transporte público
transporte individual
estacionamentos
ruas para pedestres
fiscalização

Onde :

-          NA CIDADE

Revisão completa do sistema de transporte público e criação de uma nova lógica, com o objetivo de atingir uma parcela maior da população. Listo algumas das possibilidades a serem estudadas a partir de dados coletados por meio de pesquisas específicas, até o momento inexistentes:

Rua comercial com prioridade para pedestres em Berlim. 

  • Criação de um sistema de transporte circular com percursos menores que evitem atravessar a região central da cidade (praticamente todas as linhas existentes hoje passam por essa região). A região central deverá ser tratada com especial atenção.
  • Criação de um sistema integrado intermodal de transporte, que considere a variedade de categorias existentes (inclusive e principalmente, ciclistas e pedestres) e agregue novas formas de transporte quando necessário.
  • Criação de um sistema integrado para cobrança do transporte público (estilo ‘vale-transporte’), que inclua facilidades financeiras para quem precisa de mais de um transporte ou vem diretamente de outra cidade. Analisar a possibilidade da criação de cartões de transporte anuais, mensais, semanais, para estudantes e idosos, dentre outros, que garantam descontos aos usuários frequentes.
  • Educação e sensibilização da população, através de campanhas direcionadas a diferentes públicos e de melhoria da sinalização e da comunicação gráfica.
  • Definição de ruas exclusivamente pietonais (onde não é possível trafegar com qualquer tipo de veículo) ou ruas compartilhadas com prioridade para pedestre (que poderão ser trafegadas por veículos com velocidade moderada ou apenas pelo sistema de transporte coletivo, por exemplo). Também pode haver ruas que se tornem pietonais em situações exclusivas, como fins de semana, feriados e dias de feira ou eventos.
  • Adequação do maquinário existente, principalmente ônibus, para que seja acessível a toda a população e traga - inicialmente em alguns veículos - a possibilidade de transportar bicicletas e carrinhos de bebês. Será preciso definir normas para a compra de novos veículos, para garantir a qualidade do transporte e a melhoria das paradas de ônibus e outros elementos físicos. Lembrando que acessibilidade significa, neste caso, ônibus rebaixados para facilitar a entrada de TODOS (não apenas de portadores de necessidades especiais).
  • Possibilidade de criação futura de novos serviços, como aluguel/empréstimo de bicicletas e carros, transporte por tuc-tucs (mais seguros que moto-taxis e com capacidade para mais passageiros) ou bicicletas com passageiros em regiões com grande tráfego de pedestres.
  • Revisão do fluxo atual de veículos em toda a cidade e melhoria da hierarquização das vias - garantindo a prioridade para o transporte público, trazendo vias expressas que evitem os percursos em que é preciso parar a cada esquina, organizando os estacionamentos; com a finalidade de otimizar o sistema existente.

Transporte alternativo - subsititui
motoboys com eficiência e segurança
Sistema de aluguel de bicicletas

Ônibus rebaixado: acessibilidade para
todos (idosos, cadeirantes, carrinhos
de criança ou de feira, andadores etc)



          








-REGIONAL

o   ÁGUAS DA PRATA - CONEXÃO DIRETA

Caminhos para pedestres e ciclistas separados da via de
veículos motorizados (via natureza!).
Águas da Prata merece atenção especial por encontrar-se quase que diretamente ligada a São João. Um dos grandes sentidos de expansão da cidade é na direção desta, através do Bairro Alegre e adjacentes. Alternativas flexíveis e abrangentes de transporte poderão garantir trocas cada vez maiores de mão-de-obra, turistas, serviços e possibilidades de lazer.

Já foi mais comum ver ciclistas transitando entre as duas cidades ou fazendo esse trajeto a pé pela linha do trem. Para estimular o crescimento desse tipo de percurso, é preciso investir em infraestrutura entre as duas cidades, com a colocação de uma ciclovia que proteja os ciclistas que hoje andam no acostamento. Esta poderá se desvincular da via principal (estrada) para propor novos trajetos mais integrados à natureza - e mais propícios a um belo passeio! Uma possibilidade interessante é ter esse caminho margeando o trilho do trem já existente.

o   OUTRAS CIDADES

Estação ferroviária do Bairro Alegre
São João é a ‘capital’ regional de serviços, um pólo que atrai públicos das pequenas cidades vizinhas.  Chegar e sair da cidade deveria ser uma tarefa fácil e rápida, permitindo o trânsito de todos os tipos de pessoas -  o que geraria uma ampliação desse potencial. As linhas de ônibus extramunicipais deverão estar diretamente ligadas às linhas municipais, para garantir a continuidade do sistema de transporte público dentro e fora da cidade. Isso também poderá trazer vantagens aos sanjoanenses que queiram realizar atividades em outras cidades da região, que poderão se tornar polos atrativos de diversas atividades, a serem avaliadas individualmente por estudo específico.
Trilhos na travessia da R. Padre Josué

Uma forma de transporte amplamente utilizada há algumas décadas eram os trens, que iam até Poços de Caldas levando passageiros por trajetos inesquecíveis. O sistema ferroviário em alguns lugares do mundo, como na Europa, é altamente utilizado para complementar o sistema público, pois possibilita o transporte direto, sem engarrafamentos e com riscos menores de acidentes - além de diminuir o fluxo pesado sobre as estradas.

Estação ferroviária SJBV
Poderia ser uma grande vantagem se fosse possível reativar, aos poucos, essa opção de transporte seguro e eficiente. Com trens mais modernos, é claro, que também serviriam de atrativo turístico e reduziriam os gastos com pavimentação, acidentes na estrada, ampliações e alargamento de vias, ônibus e manutenção.




Categorias:

- CICLOVIAS

                Na cidade

o   Um estudo deverá ser realizado em conjunto com grupos de ciclistas  para determinar as possíveis ruas no perímetro urbano que poderiam ser dotadas de faixa para ciclistas - compartilhada ou não com outras formas de transporte. Trata-se de um investimento relativamente pequeno, pois poderá ser utilizada a pavimentação já existente, apenas demarcando essa áreas em que o ciclista teria prioridade. É preciso levar em conta a declividade de certas regiões para buscar caminhos onde seja possível atingir um público maior de praticantes e dentro da normativa brasileira.

Na região

o   A bicicleta entre as cidades próximas e bairros mais afastados seria uma excelente opção para passeio e transporte, assim como para conexão das áreas industriais e bairros afastados do centro - evitando o risco atualmente corrido pelos trabalhadores e esportistas que se aventuram no acostamento das estradas.


Mobiliário


o   Seria necessário um investimento, talvez em parceria público-privada, para a criação de estacionamentos de bicicleta próximos a comércios, grandes equipamentos (escolas, hospitais, clubes etc), pontos de ônibus e rodoviárias, principalmente. E o equipamento de ônibus para transportar as bicicletas.

Na cidade de Bagé (RS), um ônibus com um rack dianteiro para carregar duas bicicletas (testado em São Paulo) por vez já está em operação desde abril de 2010 e  o ciclista leva apenas 15 segundos para prender a bicicleta no rack.
Em São Paulo: 
" LEI Municipal SP Nº 14.266, DE 6 DE FEVEREIRO DE 2007
 (…)
Art. 8º Os terminais e estações de transferência do SITP, os edifícios públicos, as indústrias, escolas, centros de compras, condomínios, parques e outros locais de grande afluxo de pessoas deverão possuir locais para estacionamento de bicicletas, bicicletários e paraciclos como parte da infra-estrutura de apoio a esse modal de transporte." 



- TRANSPORTE PÚBLICO

Transporte público "original" em Malta
Os ônibus não são as únicas alternativas de transporte público, existindo também miniônibus, bondes, trens, vans, bicicletas coletivas e outros. Porém os ônibus integram atualmente o sistema mais utilizado no Brasil. A melhoria desse sistema poderá alterar em muito o funcionamento da cidade, pois possibilita a limpeza de suas ‘artérias e veias’. Para isso é preciso realocar as linhas de ônibus, aumentando e distribuindo a frota de maneira mais eficiênte e planejada.

Oferecer um serviço de qualidade, através do aumento do investimento nesse setor, provocará, por exemplo, uma diminuição do investimento em pavimentação e dos acidentes causados pelo trânsito, além de reduzir a poluição da cidade e proporcionar uma melhoria da qualidade de vida da população e da preservação do meio ambiente (menos consumo de combustíveis fósseis e outros, menor emissão de gases, redução considerável do ruído e da geração de lixo)

Para auxiliar a população a considerar mudanças de hábito é necessário que todos compreendam como o transporte público pode ser um grande gerador de transformações na cidade. Facilita a mobilidade mas também a urbanidade. Exige um estímulo inicial que significa investimento em campanhas de sensibilização. A partir do momento em que as vantagens passam a integrar o cotidiano das pessoas, os investimentos em educação poderão ser reduzidos - apenas observando a manutenção da qualidade do serviço proposto.


- TRANSPORTE INDIVIDUAL
“A civilização é uma ilimitada multiplicação de necessidades desnecessárias.”[iv]

Apesar de ser o transporte mais utilizado na cidade, é o menos eficiente por diversas razões:

Fonte: http://www.coletivoverde.com.br/carros-e-a-sustentabilidade/
Economicamente, é uma bola-de-neve. Um exemplo de cálculo do gasto com um carro em São Paulo (dados de 2007), traz o valor de R$ 4739 anuais, que quando confrontado com o gasto dos não-motoristas de R$ 2.224 mostra o “tamanho do buraco”. A mesma conta, feita por um motorista pagando um financiamento com parcelas de 500 reais mensais, chega ao valor de R$ 942,00/mês, (R$ 706,81 descontado o “valor de revenda” se o carro fosse vendido em 4 anos); isso sem nunca ter batido, levado multas, sido roubado etc. Ou seja, um pouco mais de 11mil reais/ano. Tabela mais atualizada está ao lado - faça a sua se ainda não acreditar. É fácil perceber o desequilíbrio custo X dor-de-cabeça X benefício. (ver as contas)

Sem contar que as montadoras no Brasil vendem os carros mais caros do mundo! Como assim? “Tem quem compre”. A margem de lucro é três vezes maior que em outros países. Não acredita? Confira alguns preços:
Corolla: No Brasil o carro custa U$ 37.636,00, na Argentina U$ 21.658,00 e nos EUA U$ 15.450,00.
Kia Soul: O consumidor paraguaio paga U$ 18 mil, metade do preço do mesmo carro vendido no Brasil. Ambos vêm da Coreia.
Jetta: é vendido no México por R$ 32,5 mil. No Brasil esse carro custa R$ 65,7 mil. 
Gol I-Motion com airbags e ABS: fabricado no Brasil é vendido no Chile por R$ 29 mil. Aqui custa R$ 46 mil. 

A montadora põe o preço lá em cima. Se colar, colou” (saiba mais) 

Para o meio-ambiente, uma catástrofe. Você sabe quantos tipos diferentes de materiais e substâncias são empregadas na fabricação de um carro, incluindo água e energia? Pois essa diversidade de materiais provém de fontes (recursos) naturais, que são exatamente o grande problema da humanidade hoje em dia - como não acabar com toda a natureza do planeta para que possamos sobreviver algum tempo mais?

Sim, boa parte é reciclável, desde que se consiga retirar as peças do quebra-cabeça. A norma ISO 22628 divide os materiais nos seguintes grupos:

“- metais (aço, ferro fundido, alumínio, cobre, magnésio, chumbo e outros);
- polímeros [- vulgo plásticos] (PP, PP + talco, PP + EPDM, PA, PA 12, PA 6, PA 66, PBT, PC,
PC + ABS, PC + PBT, PE, PET, PMMA, POM, PUR, PVC);
- elastômeros [- vulgo borrachas] (EPDM, EPM, NBR, PUR);
- vidros (laminados, não laminados);
-  materiais Naturais (madeira, linho, algodão, couro, papel);
-  fluidos minerais e orgânicos; e
- outros (compostos para os quais uma decomposição detalhada dos materiais pode ser realizada, como os compostos eletrônicos, elétricos)”

“A utilização de materiais plásticos em automóveis não pára de crescer ao longo de 42 anos, passando de 2% em 1965 para 18% em 2007 (AUTOVINYLE, 2007). Um automóvel é um produto composto de diversos outros produtos, montado a partir de 20 a 25 mil peças feitas de diversos materiais (MEDINA, 2001, p.9) que são reagrupados conforme sete grandes famílias descritas na norma ISO 22628.


Os metais representam hoje, cerca de 70% de um automóvel, mas há também mais de 50 tipos de plásticos, além dos vidros, os têxteis e as tintasque, associadas a diferentes tecnologias, processos de produção e de montagem, conferem a este produto uma extrema complexidade de montagem.”[v]

Além disso os carros são grandes consumidores de recursos que sequer são bem utilizados. Ao andar na rua, repare quantos carros estão parados e quantos em uso. Carros parados significam recursos que foram utilizados e não estão sendo aproveitados ao máximo.

Variedade de transporte público:
trem, bonde, ônibus.
Proponho um exercício: imagine que a partir de hoje todos os carros da cidade são públicos. Isso significa que, caso você precise de um, poderá pegar o mais próximo de você e ir para onde você precisar ir. Depois basta pegar outro e deixar na rua para outra pessoa e assim por diante. Se fosse assim, os carros teriam uma vida útil realmente ÚTIL, pois seriam usados durante muito mais tempo transportando muito mais pessoas. Se, ao pegar um dos carros, você desse carona para outras 4 pessoas, aumentaria ainda mais a utilidade desse transporte. Com certeza nesse sistema não seriam necessários todos os carros que existem hoje nas ruas, talvez apenas aqueles que se encontram em movimento, sendo que o recurso natural utilizado para fabricar todos aqueles que estão parados (e passam a maior parte do dia/noite parados) poderiam ter sido poupados. >

É claro que no momento essa visão é utópica. Mas as utopias são necessárias para podermos ver melhor o mundo. Aliás, existem atulmente diversos serviços profissionais de partilha de carro, em inglês CarSharing (que é diferente de dividir carro particular, dar carona; pois é um serviço de uma empresa) que trabalham com esse conceito, como o Autolibre em Paris e muitos outros outros: Mobility.ch, Zipcar, Ozocar, Hertz Connect, CityCarShare etc. Está achando muito internacional? Pois acaba de chegar em São Paulo com a Zazcar. E em São João, será que chega?

Esse sistema flexível de aluguel de carros, apesar de parecer caro em um olhar superficial, se glorifia justamente dos preços muito mais acessíveis pois incluem em seus serviços todo tipo de manutenção, abastecimento e seguro dos carros, o que é uma grande vantagem para o consumidor que tem apenas que dirigir. Visa complementar o transporte público para situações específicas, excluindo a necessidade de veículos particulares (individuais e empresariais).

Uma versão mais “pé no chão” desse sistema é o transporte público. São ‘carros’ grandes que transportam muitas pessoas ao mesmo tempo e raramente estão parados. Consomem menos recursos naturais (se considerado o tempo de vida e principalmente a quantidade de deslocamentos que efetuam durante esse tempo, isso sim é vida útil!), poluem menos (compare 50 pessoas num ônibus com 50 pessoas em seus respectivos carros), gastam menos combustível, fazem menos barulho, causam menos acidentes etc.

Poluição causada por veículos - Cetesb
Para  a saúde, será preciso escrever? É claro que ir de carro até a academia fazer exercício em uma esteira é possível e saudável. Mas porque não caminhar simplesmente até a academia, bater a mão na parede e voltar? O exercício seria o mesmo, excluídos os gastos, desperdícios e poluição com transporte. Ainda por cima é de graça! Daria para tomar um açaí na volta.

Existem textos específicos que falam sobre o assunto de forma interessante, portanto não entrarei em detalhes. 

(Para conhecer mais sobre as vantagens do exercício proporcionado pelas bicicletas basta clicar)

Como é que fomos capazes de criar uma sociedade baseada em um meio de transporte tão desvantajoso? Será que é simplesmente pela pressa em chegar, pelo tal do ‘status’, pela visão consumista de que devemos POSSUIR por mais que o que queremos é DESLOCAR? Não sei.




-  ESTACIONAMENTOS
Sem dúvida estacionar em São João está se tornando uma maratona, apesar do pequeno porte da cidade. Não existe ainda estudo específico sobre a demanda por estacionamento, mas existem pontos importantes que poderiam ajudar nessa questão:

- Oferecer opções de transporte público de qualidade, como já dito anteriormente.
- Oferecer “atrativos” à caminhada e uso de veículos com motor humano (bicicleta, skates, patins, patinete e outros).

Parklet "estar"
- Estabelecer legislação rígida quando da criação de novos empreendimentos na cidade - sejam eles de ordem empresarial, comercial ou educacional - para que apresentem uma avaliação de impacto sobre o entorno e soluções concretas para o problema do trânsito (fluxo e estacionamento). Essas soluções não precisariam ser necessariamente centenas de novas vagas de estacionamento mas, tomando como exemplo uma nova empresa, transporte coletivo da própria empresa para os funcionários, vestiários para aqueles que vierem se exercitando (que poderiam ter vantagens como redução de 15 minutos do expediente, por exemplo) etc.
- E a Zona Azul? Esssa é uma questão delicada. Seria preciso avaliar os impactos que uma reestruturação do transporte no centro da cidade poderia causar para avaliar se a zona azul é realmente um ‘mal necessário’. Pessoalmente, acredito que ainda não, considerando a escala da cidade e estimando as modificações. Porém seria preciso um aprofundamento na questão para se tornar um partido -  considerando que atualmente a Zona Azul é vital para o funcionamento do centro.
Parklet "paisagísmo + bikes"

Parklet "café"
O fato dela ser tercerizada é outra questão que poderia ser abordada, já que apenas 11% da verba arrecadada é destinada à cidade, sendo 5% para a Associação Comercial e o restante para o Projeto Feniz e Pequeno Artesão. Considerando-se que em janeiro de 2011 foram arrecadados cerca de R$54.400, aumentando para R$80.000 em maio (consequência do dia das mães) e cerca de 68.500 em agosto, poderíamos concluir que cerca de R$7.400/mensais são diretamente repassados para a cidade, ficando o restante para a empresa. Sem duvidar da idoneidade da empresa que presta esse serviço, mas tendo em vista a necessidade de financiamento para que algumas mudanças ocorram, fica a questão de que, se futuramente fosse possível aproveitar maior parte desses recursos para a cidade, poderia ser uma maneira de arrecadar fundos até mesmo para a implementação de formas alternativas de transporte para o centro (bondes/bicicletas...).



E se não houvessem estacionamentos, o que haveria?
Parklet "alimentação"
Uma experiencia internacional interessante são os Parklets que nada mais são do que vagas de estacionamentos utilizadas com nova função. Existem diversas formas de aproveitamento desses espaços, sejm por bares, mobiliários públicos e lugares de estar. Existem algumas experiências dessas no Brasil, mas ainda em nível inicial.


Ou ainda, em algumas localidades ao invés de estacionamentos que ocupam 'alargamentos' da pista principal, são criadas vagas intercaladas por outros elementos, que melhoram a qualidade do ambiente. As calçadas, em alguns momentos, tornam-se desnecessárias (principalmente em bairros residenciais), pois o pedestre passa a ter prioridade nas ruas. Alguns exemplos abaixo:






- RUAS PIETONAIS, PROMENADES

O que são e para que servem as ruas para pedestres?
Existem diversas modalidades possíveis:

De uso exclusivo de pedestres -  em meio à natureza (florestas, margem de rios etc) ou entre edificações (passagem)
- Compartilhadas com outros veículos, mas com prioridade para o pedestre - costumam possuir materialidade homogênea na pavimentação das ruas e calçadas, com materiais que forcem a redução de velocidade dos carros e com sinalizações que indiquem essa prioridade.
- Semi-exclusiva / excusivas em ocasiões específicas - ruas fechadas para feiras e outros eventos.
- Ruas semi-privadas - condominiais ou dentro de loteamentos, que servem de passagem para moradores principalmente.

Podemos considerar que em São João são raros os exemplos de ruas pietonais, sendo que diversas áreas têm potencial para tê-las. Por exemplo, as grandes avenidas comerciais do centro, a Av. Durval Nicolau e muitas pequenas ruas residenciais.

Um assunto interessante que pode ser abordado nesse item é sobre a liberdade das crianças na cidade. Antigamente era possível para as crianças irem a pé para a escola e casa de amigos, além de poderem brincar na rua - fato convivial cada vez mais raro e inibido. Mas porque? Diversas são as possíveis causa, mas sem dúvida a hostilidade dos espaços que criamos na cidade é uma das mais importantes.

No Brasil existe um site bastante interessante que trata do Transporte Ativo na Escola, com ideias, sugestões e muitos exemplos. Em inglês, há uma palestra bem interessante da autora do blog FreeRangeKids (que traduzido seria 'crianças fora do campo de visão') que trata dos medos atuais da sociedade relacionados às crianças - que acabam por torná-las 'prisioneiras'. O site para a palestra.
Se considermos que todas as ruas deveriam ser feitas para o pedestre, teríamos alguns cuidados em especial a serem tomados, referentes à segurança, acessibilidade, ‘agradabilidade’, fluxo que deve comportar, iluminação, paisagísmo etc. Alguns exemplos:

   



FISCALIZAÇÃO

Medidor de velocidade móvel
Para que essas novas propostas fossem possíveis, seria preciso um programa de fiscalização intensificado. Para reduzir os custos que poderia gerar um aumento na fiscalização (considerando-se que hoje São João conta com apenas dois fiscais de trânsito, que concentram seus trabalhos na área central da cidade), seria possível apostar no “fator aleatório”.

O que isso significa?

Não é necessário haver um fiscal para cada esquina, é preciso apenas que não se saiba onde o fiscal está - assim seria preciso estar alerta o tempo inteiro. Alguns fiscais circulando por diferentes partes da cidade em diferentes horários bastariam para ‘acalmar’ o trânsito.

Os redutores (ou quebra-molas) não servem para essa função, pois tiram a agilidade do trânsito das vias maiores, além de danificarem o sistema de amortecimento dos veículos. Ao fazerem os veículos freiarem com frequência, aumentam também o ruído, a necessidade de manutenção dos veículos, a poluição. Se as vias forem bem hierarquisadas, poderá haver dois tipos de velocidade principais:

Esquema de técnicas de Trafic Calming.
- as vias rápidas, com travessias seguras para pedestres, que não necessitariam de redutores.

- as vias locais, de tráfego lento, que também não necessitariam de redutores mas poderiam utilizar diversos métodos de trafic calming que inibiriam os mais velozes e poderiam proporcionar ruas em que as crianças pudessem jogar.

O que é trafic calming? É um sistema de modificações feitas às ruas - como pavimentação em tonalidade diferente, mudança de pavimento, ruas sinuosas, ruas de mão dupla em que só é possível passar um carro por vez, marcações no piso e sinalização própria - com o objetivo de criar “ruas de vizinhança”, de trânsito moderado e lento.
(clique aqui para ver exemplos de trafic calming)

Além disso, outro tipo de fiscalização interessante é a do transporte público. A roleta e o cobrador tornaram-se, em alguns países, absoletos. O sistema de cartões substitui grande parte do pagamento em dinheiro realizado no próprio ônibus (sendo que podem haver descontos para a compra antecipada, em qualquer banca de jornal). Com isso, o motorista consegue sozinho cobrar os que ainda assim desejam pagar em dinheiro. Para os outros, não é necessária fiscalização fixa.

Como assim não é necessária fiscalização?
Um exemplo interessante, que acontece em diversas cidades européias, utiliza também o "fator aleatório". É possível entrar e sair do ônibus por qualquer porta, pois todas possuem uma maquininha para leitura de cartão - o que agiliza o fluxo de pasageiros. Porém, como controlar se todos os que entram pagam realmente? Não são todos os passageiros que são controlados. Porém, aleatoriamente, os ônibus são abordados (no ponto ou fora dele) por fiscais que verificam todos os passageiros, conferindo se validaram o cartão ou compraram passes. Os 'espertinhos' levam uma multa tão alta (proporcionalmente ao valor da passagem) que é suficiente para pagar a passagem de diversas pessoas em outros ônibus que teoricamente também não pagaram - ou das diversas viagens que essa pessoa possa ter feito sem pagar. As pessoas ficam com tanto receio de serem pegas e pagarem a multa, que raramente se 'esquecem' de pagar a passagem. 

Em outros locais, a entrada é restrita pela porta da frente e o motorista acompanha visualmente a validação dos cartões. Há também fiscais circulando.

No fim das contas, a arrecadação do transporte público em passagens + multas continua sendo a mesma ou até superior ao sistema tradicional, porém com um sistema mais prático e veloz.

E ENTÃO?
Para finalizar - e se inspirar - dê uma olhada na campanha realizada pela cidade de Suffolk para conscientização no trânsito. A campanha abrange as áreas de educação, planejamento etc; para todas as idades e com focos variado: para empresas, escolas etc - um estímulo ao viajar corretamente! O site informativo sobre transporte urbano também é extremamente detalhado e caprichado.


Caso tenha gostado do assunto e queira se aprofundar ainda mais, estará disponível no setor de Planejamento da Prefeitura uma série de cadernos técnicos sobre o assunto. Quer conversar mais? Escreva e poderemos marcar uma reunião temática, ou ainda cadastre-se como co-criador e deixe sua opinião/observação/referências aqui no site.




[i] Minidicionário Houaiss
[ii] Frase de Alexandre Dumas.
[iii] Minidicionário Houaiss
[iv] Frase de M. Twain.
[v]  http://www.lactec.org.br/mestrado/dissertacoes/arquivos/RenataGanzerli.pdf
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