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LIXO

“Resto que não se aproveita, imundíce”[i]

O que é lixo, senão bens de consumo descartados? E porque são descartados?
Por vezes porque apodreceram, estragaram. Ou porque serviam apenas para conter algum outro bem que nos interessava muito mais, ou porque não são modernos o suficiente.

Será?
Todas essas possíveis explicações são falhas e tentaremos decifrar os por quês. Primeiramente, será preciso re-conceituar o que “lixo” significa, e todas as outras palavras que podem ser assimiladas à esta. Exemplos? Criatividade, recursos naturais, reciclagem, desperdício.

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Introdução


E São João?

- O que podemos fazer? - campanhas: compostagem; redução de embalagens; novo ciclo de vida; triagem 

Aprofundamento
  
Como evitar o lixo?

- R1: Reduzir - compostagem; consumo; concentrado; preciso da imagem que me vendem?
- R2: Reusarlogística reversa; 
- R3: Reciclarcomo é feita a coleta?; embalagens e rejeitos; divisão do lucro; coleta especial; eletrônicos, podas de árvores e restos maiores; eletrônicos; metais, plástico e vidro; resíduos orgânicos (compostagem)
Educação e Inovação - Compra coletiva; simplificação; poluição.


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REJEITO X RESÍDUO

Lixo-arte: Vik Muniz
A Política Nacional de Resíduos Sólidos, trás as seguintes definições para esses dois termos:

“XV - rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada

XVI - resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível;”[ii]
Lixo-arte: esculturas com correias
de bicicleta por Seo Yeong-Deok.

Ou seja, o lixo é essencialmente dividido em dois grupos principais: os resíduos, que é a grande maioria do lixo e que deverá ser tratado das mais diversas maneiras e os rejeitos, que é a menor parcela que sobra quando esgotadas as possibilidades de aproveitamento, de acordo com a tecnologia atual.

Lixo-arte: reusar. Dust Design Co.
O lixo é visto como algo de insuportável, inviável, que deve ser afastado da vista humana o quanto antes. Na realidade, se os resíduos fossem descartados e aproveitados de maneira correta, poderíamos reduzir - e em muito! - o massacre do planeta e o esgotamento dos recursos naturais. Não bastando, seria possível até sorrir com a economia de verbas - públicas e individuais - ao comprar repetidamente o que já se tem e se descarta. É imensa a fortuna que vai embora junto com o lixo, para ficar perdida em diversos ‘montinhos’ espalhados por aí (que seja longe de mim!) importunando a natureza.

Algo impressionante é que quanto maior a riqueza, maior a produção de lixo e maior o asco e distanciamento deste. Mas lixo visto com outros olhos vira até obra de arte! Basta criatividade. Alguém duvida?

O lixo explode como um dos grandes campeões da ‘comentação pública’ nas mídias sociais, está por toda parte.

Precisamos entendê-lo, categoriza-lo (mentalmente, inclusive) e atacarmos o problema de frente. Encara?

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E SÃO JOÃO?

DADOS BÁSICOS
Produção mensal de lixo: 1.538,24 toneladas/mês. São João tem 84.241 habitantes, ou seja, em média 18,26kg mensais por habitante. Em uma família de 3 pessoas, seriam 657kg por ano!
Coleta dos resíduos dos serviços de saúde: 8 a 9mil kg/mês
Reciclagem:  Realizada em parte pela Coopermax
Apoio da prefeitura: terreno, barracão e prensas para implantação; fornecimento de um caminhão basculante (da municipalidade), aluguel de um caminhão, 40 litros de gasolina semanais e aprox. R$ 1.290,82 pelo recolhimento de 60 ton/mês. Além da contribuição do município, o produto da 'coleta diferenciada' é vendido pela própria cooperativa.
Ou seja: apenas 3,9% do lixo produzido é reciclado. O que já é um valor inicial, considerando a realidade brasileira. Mas podemos fazer ainda mais!
Varredura: Serviço terceirizado. São 90 varredores que percorrem 7.279,24 km varrendo guias e sarjetas, utilizando-se de vassourões e carrinhos. Existe uma varredoura mecanizada utilizada em áreas planas e avenidas.
Podas e corte de árvores: aprox.3400 podas/ano e 822 cortes (autorizados pela Comissão de Corte e Reflorestamento), poda de grama.
Viveiro Municipal: doação para arborização urbana de 5.323 mudas e aprox. 100.000 para reflorestamento de áreas ciliares, tendo sido plantadas 73.588 mudas de espécies nativas.
Premiações e projetos:
- Adesão ao projeto Pacto das Águas
- Adesão ao projeto Mina d'Água (em fase de formatação);
- Adesão ao projeto Município Verde Azul  - premiado por 3 anos, recebendo a certificação do "Indice de Avaliação Ambiental", atestando seu empenho no cumprimento das 10 diretivas que regem o projeto ambiental estratégico. 
Em 2010 encontrava-se na 92a posição dentre os 644 municípios participantes, tendo estado em 109o em 2008 e 56o em  2009 (dados: abril/2011).
[A vizinha, Águas da Prata, esteve em 252o em 2008, 491o em 2009 e 595o em 2010. Lembrando que não adianta tratar apenas do nosso quintal, pois o território é um apenas.]
Educacional:
Em parceria com o Consórcio Intermunicipal de Preservação da Bacia do Rio Jaguari Mirim – CIPREJIM e Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Mogi Guaçu:
- Projetos de educação ambiental junto a rede  pública, municipal e particular (Semana da Água, Semana do Meio Ambiente, Dia da Árvore, Criança Ecológica);
- Centro de Educação Ambiental na sede do Consórcio.
Parceria com a Promotoria de Justiça, visando o recebimento de infratores para cumprimento de pena sócio educativa de prestação de serviços a comunidade.
- Mutirão Social em Parceria com o Departamento de Promoção Social: disponibilização de três equipes compostas de 7 pessoas cada para executarem serviços de limpeza na cidade, três dias por semana.



SÃO JOÃO HOJE

São João passa por um momento crítico quanto ao tratamento de seu lixo. O aterro antigo chegando ao limite, o novo aterro que não será feito após reinvidicação da população por soluções alternativas, mais tarde concretizada através do Fórum do Lixo (evento que reuniu especialistas sobre o assunto para uma discussão instrutiva). O fórum também gerou um comitê para tratar do assunto junto à administração da cidade. O volume de lixo cresce acompanhando o crescimento da cidade e será tratado, provisóriamente, em outra cidade numa operação que sairá cara para a municipalidade.

Um fato: todos estamos buscando soluções e não existe apenas um caminho que seja certo.

Afinal, o lixo é problema de todos e qualquer um. Em São João, o sistema de tratamento de resíduos ainda é incipiente, através de cooperativas quase auto-geridas. A primeira atitude necessária e urgente é a sistematização do tratamento dos resíduos, para que não virem ‘rejeitos’ e tenham que ser descartados em aterros. Também não se fala em compostagem e pouquíssimo em redução do consumo de embalagens e afins, que deveriam vir antes da preocupação com o descarte, reduzindo o problema da fonte.

As tecnologias atuais para tratamento de lixo ainda podem sair caras para uma cidade de pequeno porte, desde que não haja algum outro tipo de patrocínio. O problema do lixo precisa ser encarado antes de tudo como uma fonte de renda e de trabalho - como uma empresa qualquer. E uma empresa que afeta diretamente o meio-ambiente, mas não apenas o nosso: o de toda a geração futura assim como das cidades da região.

São João é a maior cidade em seu entorno e, como total, poderia se tornar uma cidade centralizadora do sistema de tratamento de lixo, modelo a ser seguido em outras regiões. Afinal, não adianta cuidarmos do nosso quintal pois se o do vizinho está poluído chegará até nós. Centralizando o serviço, seria possível cobrar pelo tratamento adequado do lixo e utilizar essa fonte de renda como investimento em tecnologia (talvez até em pesquisa sobre novas formas de tratamento, através de convênio com as universidades). Além disso, com um maior volume de lixo é possível pensar em alternativas de maior porte - e maior preço. Considerando-se que a população do município é de 84.241 e a da região governamental 473.641, dá para imaginar a montanha de lixo gerada. É claro que seria necessário um estudo mais preciso do assunto para afirmar com certeza o que seria possível fazer. Com certeza seria preciso começar em algum momento e começos nem sempre são simples. Mas não falamos em utopias.

E quanto à cobrança para o tratamento do lixo? Em muitas cidades existem taxas que são cobradas anualmente para a coleta e tratamento tanto residencial como empresarial. Será que são justas, será que ‘dói’ no bolso de quem paga? Nem tanto. São taxas reduzidas, pois a conta é dividida entre todas as pessoas e, claro, em grande parte subsidiada pelo governo. Com isso, há a garantia de um sistema realmente eficaz de coleta, publicidade, tratamento e descarte do lixo. Em alguns lugares, é cobrada uma taxa ainda mais importante de empresas e comércios do que da população em geral. Em outros, existe a possibilidade de ter descontos nessa taxa para pessoas que pratiquem compostagem caseira ou que façam triagem para a coleta seletiva (ou ainda multas para quem não o fizer!).

Sim, o problema do lixo, além de ambiental,  é também um problema financeiro, honeroso.

Por outro lado, se não houverem investimentos no começo da cadeira - da produção ao tratamento desse lixo-, o preço pago mais tarde será muito maior e, por vezes, as consequências irremediáveis. Ainda mais em uma das poucas regiões remanescentes de mata atlântica, de paisagem tão bela!

O QUE PODEMOS FAZER?
Para isso, é preciso uma campanha massiva de conscientização da população para a redução na produção de lixo (utilizando-se de benefícios e penalidades, quando preciso). Pode-se começar pela parte ‘mais barata’ do processo, que inclui investimentos iniciais que já geram como resultados a redução do lixo - e do problema.

Por exemplo? Campanhas de conscientização e educação da população para a compostagem, redução do consumo de embalagens, criação de novos ciclos de vida para produtos e triagem para a reciclagem:

- A compostagem pode ser estimulada através de cursos e de subsídio para a compra/fabricação de composteiras (que poderão ser feitas na própria cidade - não precisam ser importadas sabe-se lá de onde!). Trata-se de uma tecnologia muito simples e barata. Poderá ser feita em escala residencial (considerando-se de que a maioria da população de São João vive em casas, espaço não faltará), ou ainda em escala de comunidade, de bairro, tendo um ‘mestre-composteiro’ que irá cuidar dos resíduos orgânicos de toda uma rua, por exemplo.

Eco-embalagens
- A redução do consumo de embalagens tem dois lados interessantes: a produção e o consumo.
O primeiro trata de estimular a redução do uso de embalagens para a venda de produtos. [fotos exemplo de eco-embalagens] Podemos considerar que é difícil começar esse tipo de processo pelos grandes produtores, as ‘marcas’ de grande porte. O que pode se apresentar como uma excelente oportunidade de valorização da produção regional de muitos alimentos. Valorizar os alimentos com embalagens mais simples e de fácil processamento (ainda assim atraentes) significa educar uma população de consumidores críticos, que procuram produtos de qualidade mais do que embalagens caras que produzem lixo demais. Abre oportunidade para o mercado regional, que deverá também ser orientado através de cursos e exemplos a produzir com menor impacto. Além disso, também trata-se de um incentivo à venda a granel e de produtos frescos, voltando à ideia original de mercados e feiras (a feira livre é atualmente realizada 5x por semana em bairros distintos). Talvez a oportunidade de criação de um mercado bonito e atraente como o de Poços de Caldas ou São Paulo, por exemplo?

É primar pela qualidade e frescor dos alimentos e ainda reduzir a produção de lixo!

Ou ainda, pode-se educar a população e ensiná-la a produzir seus próprios produtos de limpeza quando possível (ou comprar de quem produz produtos naturais e, se possível, que recolhe as embalagens e trabalha com sistema de refil - mais uma vez valorizando e estimulando a produção local e mantendo a renda dentro da municipalidade). É relembrar que o produto ‘artesanal’, ‘local’ deve voltar a ser sinônimo de qualidade.

- Criar um novo ciclo de vida para um produto significa reutilizá-lo simplesmente. Seja através de bazares e sebos, que vendem roupas e outros objetos usados mas em bom estado (que podem ser, inclusive, bazares chiques, luxuosos - nada de poeira e quinquilharias apenas), seja através de doações e estímulos à troca ou ainda de capacitação para o reaproveitamento de produtos eletro-eletrônicos. 

Projeto Reciclatesc
Em São Carlos está sendo feito um projeto de reaproveitamento de computadores descartados, para a construção de novos computadores. O projeto Reciclatesc ainda está no início, mas já traz resultados extremamente positivos, como a capacitação de 37 pessoas e 11 estão em formação; a doação de 36 computadores; a recuperação de cerca de 10% dos 4000 volumes já recebido e o descarte correto de todo o resto. As metas agora visam a independência econômica e a ampliação do sistema.

Outro método interessante, tido como um pouco mais ‘moderno’ e por isso mais difícil de ser compreendido, é o uso de um mesmo objeto por diferentes usuários. Não se trata de um sistema de cooperativismo, em que é preciso conhecer o vizinho e comprar algo junto, contando com a boa vontade de todos os envolvidos. Atenção: não é um sistema socialista, mas de capitalismo chique. Como assim?

Por exemplo: propondo um serviço eficiente de lavanderia, de empréstimos de ferramentas, de aluguel de bicicletas e carros, de cyber-café, de limpeza domiciliar.

Se tenho um jardim gramado, não preciso ter um cortador de grama enorme ocupando espaço na minha casa - posso alugar um quando precisar cortar, e entregarão na minha casa e virão buscar quando eu programar. Não me preocupo nem com manutenção! Ou ainda, poderei contratar também  o serviço de poda (por m2) e assim não preciso gastar meu tempo me preocupando com isso. Ao mesmo tempo, posso contratar um serviço de lavanderia que busque minhas roupas, lave e devolva e assim não preciso gastar espaço com lavanderia, com varal de roupa, em estender, esfregar, passar, dobrar; não preciso me preocupar se está chovendo e em comprar produtos para lavar roupa ou pagar empregados para fazê-lo dentro de casa -  nem se a máquina de lavar vai dexar de funcionar. Posso também contratar o serviço de uma empresa de limpeza para minha casa e escritório e eles virão com todos os produtos necessários para todas as tarefas (até lavar meu tapete com qualidade), como aspiradores de pó e jatos d’água para limpar o piso que está escurecido. Assim como funciona passar num lava-rápido e dar uma geral no carro, virão vários funcionários e em algumas horas minha casa estará nova.

Esses serviços todos trazem benefícios inestimáveis, pois permitem que muitas pessoas utilizem os mesmos objetos, não precisando assim que cada um compre o seu (e ainda possibilitando o acesso de mais pessoas a objetos mais caros). Quais outros benefícios? Ganha-se espaço nas residências, reduz-se a preocupação, ganha-se em eficiência.

Sim, exige um modo diferente de pensar, mas um modo que só traz vantagens, tanto para o ambiente quanto para o usuário e para a economia. Se ainda assim você não entende as vantagens, não se preocupe - novas conversas surgirão sobre o assunto.

- A triagem é a primeira etapa para garantir a reciclagem dos produtos vendidos. É preciso que aconteçam campanhas porta-a-porta para esse tipo de educação, com explicação e definição de metas que mais tardes poderão ser cobradas. Também é preciso que hajam investimentos financeiros em mobiliário específico que facilitem e estimulem a triagem - se possível com humor e arte! Cada tipo de situação exigiria um mobiliário específico, definido em estudo de caso preciso que abranja toda a cidade.

Coleta com depósito enterrado.
Coleta com depósito semi-enterrado.

Coleta com depósito exposto.
Caminhão para coleta automatizada.
Seguindo essas medidas educacionais (que por vezes exigem mais consciência do que verba), vêm as medidas em maior escala. Ou seja, a estruturação do sistema de tratamento e coleta do lixo reciclável (em conjunto com a oficialização das cooperativas de lixo e criação de pontos de coleta) a criação de bio-indústrias para o tratamento do lixo orgânico coletivo, a destinação correta dos rejeitos que não possam ser tratados. Será preciso uma revisão admnistrativa que abranja a legislação, a tarifação, a busca por convênios e incentivos fiscais. Então, a sistematização do serviço permitirá a ampliação do atendimento para uma escala regional, que deverá ser considerada desde o começo do planejamento.

Parece difícil mas é sobretudo necessário e urgente. De passo em passo: trabalho de formiguinhas - que já sabem tão bem consumir, precisam descobrir como devolver à natureza para que ela produza mais. Não é utópico, pois está sendo feito em vários lugares.

Existe um projeto chamado “Mini-waste” (em português) que visa “demonstração e implementação de ações de prevenção de resíduos e redução na origem, em diferentes escalas” abrangendo diversos países e cujas 10 melhores práticas são:
  1. Compostagem caseira - Itália (Piemonte)
  2. Compostagem caseira – Reino Unido (Kent)
  3. Compostagem caseira - Portugal (Lipor)
  4. Compostagem caseira - França (Chambery)
  5. Compostagem comunitária - Bélgica (Flemish Region)
  6. Compostagem comunitária - Suiça (Zürich)
  7. Compostagem rural de proximidade - Áustria (Freistadt)
  8. Desperdício alimentar – Reino Unido (WRAP)
  9. Jardinagem em ciclo fechado - Bélgica (Flemish Region)
  10. Centros de reutilização - Bélgica (Flemish Region)
Atenção: é redução inicial, básica, primária!
Mais informações sobre essas dez práticas selecionadas, explicadas (em inglês) desde os objetivos, realização e ações; aos custos e resultados.

Exemplos e definições mais esmiuçadas logo abaixo. Entenda!
Caso tenha dúvidas e novas ideias, inscreva-se para participar (direta ou indiretamente) ou ainda entre em contato através do e-mail projetosjbv@gmail.com.

COMO EVITAR O LIXO?

Todo mundo já ouviu em algum momento - cantarolado, colorido, assoviado - o slogan REDUZIR x REUSAR x RECICLAR”, para os íntimos os “3 Rs”.

Mas quantas pessoas pararam para pensar que a ordem nessa sequência de R’s não acontece por acaso (ou porque rima melhor), mas por ordem de prioridade e importância? Ataquemos os Rs:

R1: REDUZIR
A maneira mais inteligente de se livrar dos problemas do lixo é simplesmente não criá-lo além do necessário. Para isso podemos melhorar em muito nossa utilização e consumo de produtos, buscando aqueles com menos embalagem, levando uma sacola de tecido às compras ao invés de voltar com dezenas de sacolas plásticas e outras soluções individuais e campanhas de que tanto ouvimos falar. Mas não é só isso.

COMPOSTAGEM
A compostagem é certamente uma maneira extremamente eficaz de redução do volume de lixo produzido, pois retira diretamente os materiais que poderão voltar para a natureza sem precisarem de tratamento prévio.
“No Brasil, esses componentes orgânicos somam cerca de 60% do peso do lixo coletado. Nos Estados Unidos representa 12% , Índia 68% e França 23%.
As variações são as seguintes: quanto mais desenvolvido o país ou mais alta é a classe social, menor é a proporção de resíduos orgânicos compostáveis e, maior a de recicláveis (papel, papelão, vidro, metais e plásticos)”. Ler na fonte.

Sessenta porcento é bastante, não? Não existe uma pesquisa específica sobre o lixo coletado em São João, mas sabemos que a porcentagem é alta.
Mais sobre o assunto lá embaixo, no tópico sobre reciclagem.

CONSUMO
“Reduzir o consumo” é um slogan detestado pela maioria das pessoas, pois traz sentimentos de culpa e compulsões mal-resolvidas. Não se trata de uma ideia anti-capitalista, pelo contrário. Um pensamento mais saudável poderia ser “Consumir com Inteligência”. O que isso significa?

Significa reduzir (o uso de recursos naturais, energia etc) sem perder eficiência e o conforto com o qual se está acostumado. Não é difícil. Um exemplo atual de como a tecnologia pode ser usada nesse sentido é a multifuncionalidade dos equipamentos eletrônicos que compramos. Exemplos:

O telefone deixou de ser um simples telefone e virou o “celular”, telefone móvel que agora agrega as funções dos (para muitos) ultrapassados: bip, correspondências, agenda, calendário, vídeo-game, câmera fotográfica e filmadora, computador etc.

As impressoras multi-funcionais diminuiram a parafernalha do fax, escaner, xerox e impressora, trazendo enorme economia de material e espaço livre nos escritórios.

Outros grandes sucessos de design e venda abusam da multifuncionalidade como padrão de qualidade: berço que vira cama e acompanha o crescimento, produtos de limpeza que limpam de tudo, sofá-cama, máquinas fotográficas que filmam etc.

Compra-se menos sem perder em funcionalidade.

E o que falta para a real eficiência desse sistema? Também é simples:

- Caso uma dessas maquininhas deixe de funcionar, perde-se todas as funções de uma só vez;
- Existe pouca preocupação com a manutenção (custa menos comprar um novo do que tentar consertar) e com a possibilidade de trocar apenas uma peça quando é preciso atualizar um produto ultrapassado;
- Os produtos não são mais feitos para durar (sendo descartáveis, com vida útil curta, você é obrigado a comprar mais alimentando a empresa que o vende).
- Acreditamos que temos a necessidade de, individualmente, possuirmos cada um desses objetos - e ainda o último modelo-, quando muitos são raramente usados e poderiam ser substituídos por serviços de qualidade. 

Pois um ponto importante para a redução do lixo é a tomada de consciência que acarreta na cobrança de quem produz, em saber exigir e boicotar quando preciso. Ser um consumidor inteligente e engajado. Um produto de bom design é capaz de durar muito e, sendo multifuncional, resolver várias funções com menos material. Talvez seja um pouco mais caro à primeira vista, porém muito mais barato a longo prazo (sem exigir reposição constante) e em termo de recursos naturais.



CONCENTRADO
Mais com menos: produtos concentrados e compactos vêm com força total reduzir o lixo - tanto nas embalagens quanto na quantidade de produto consumida e descartada para uma mesma função. Fórmulas cada vez mais concentradas estão sendo lançadas no mercado, aparelhos menores (pen-drives, dvds, TVs de plasma) mas fique atento: de quantos desses produtos você realmente necessita?


PRECISO DA IMAGEM QUE ME VENDEM?
Muito do que nos é vendido não é realmente útil e acaba logo entulhando alguma gaveta. Quantos carregadores de celulares estão perdidos por aí? Porque será que não é obrigatório um ‘design universal’ para que qualquer carregador sirva para qualquer telefone? Se considerarmos o mercado infantil então, a pilha de lixo não tem fim! E é exatamente essa educação sobre compras exageradas que passamos para nossas crianças, pessoinhas extremamente manipuláveis e absorvedores vorazes de conhecimento (correto ou não).

Tem questões sobre como funciona a indução ao consumo realizada sobre as crianças? Assista o documentário interessantíssimo ao lado, chamado "Criança, a alma do negócio" sobre o assunto crianças x consumo e entenda um pouco mais (tem uma versão reduzida no youtube, para os preguiçosos). 

Então, porque não assumir que talvez nossos avós tinham razão em muito do que faziam e não soubemos valorizar o suficiente? Porque não economizar água, reinventar profissões extintas como ‘consertador de guarda-chuva’? É mais fácil - e financeiramente atrativo - do que imaginamos.

Exemplos simples:
Saquinho de jornal para lixo seco.
Que tal fazer um saquinho de jornal para o lixo do seu banheiro? Ou até mesmo de seu escritório? É uma maneira simples de reduzir a utilização desnecessária de sacos plásticos, pois trata-se de lixo seco que não precisa de tanta embalagem! Supondo-se que seja destinado incorretamente, não dificultará a desintegração do seu conteúdo.

Ou ainda produzir seus próprios produtos de limpeza? É rápido e cheiroso, rende muito e custa pouco, não intoxica nem você nem o meio-ambiente. Precisa mais?


Acredita que a água mineral engarrafada é a mais saudável? Tem certeza do armazenamento dessa água, para saber se ela não ficou exposta ao sol e calor antes de você comprar (lembre-se que não se deve beber água esquecida no carro exatamente porque o aquecimento da mesma em contato com o plástico pode lhe levar a beber mais do que uma simples água...).


Pois saiba que a água de São João é tão bem tratada que sim, é recomendável tomar água de torneira! Quantas pessoas, em viagens na Europa, se gabam do luxo do ‘primeiro mundo’ que toma água da torneira?! Se soubessem que também temos esse luxo aqui, talvez em até melhor qualidade... assista a "História da Água Engarrafada", em versão dublada aí ao lado, para entender melhor todo o processo.

E porque é que nos damos ao trabalho de comprar galões e filtros caros? Porque acreditamos na propaganda que diz que água engarrafada é melhor - porque se não acreditássemos não venderia! E a variedade de filtros existentes, caríssimos? Sabia que o filtro de barro é reconhecido internacionalmente como um dos mais eficientes? Tecnologia tupiniquim. Não acredita?

O site metaefficient, que é reconhecido por buscar os produtos mais eficientes, colocou nosso filtro de barro como o primeiro da lista: O MAIS EFICIENTE! Não polui a água, não precisa de energia nenhuma, faz excelente filtragem (remove 95% de cloro, pesticidas, ferro, alumínio e chumbo, e 99% de criptosporídeos, giárdia e sedimentos), é artesanal, dura anos sem manutenção e, de quebra, ainda refrigera, mantendo a água sempre fresca. Pode dizer para a vovó. 

R2: REUSAR
Houve um tempo em que o leiteiro passava de porta em porta trazendo o leite fresco, recém tirado, que dispunha nas garrafinhas de vidro que o esperavam na porta da frente. Os refrigerantes vinham em garrafas de vidro retornáveis, que hoje são usadas apenas pelos que acreditam ser o sabor melhor do que dos contidos em embalagens plásticas (que, por sua vez, possuem suas vantagens, como a redução do peso para transporte - mas sabia que as empresas de refrigerante costumam manter produção o mais local possível?).

Essa prática que já foi tão popular faz parte da tal logística reversa. Um nome que parece complicado para algo tão simples.

A definição oficial seria:
“XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada;”[iii]

Rede-Asta de artesanato sustentável -
reaproveitamento de materiais diversos.
Ou seja, significa responsabilizar os produtores de diversas categorias pelos resíduos que produzem e os danos que estes poderão causar ao meio ambiente. Existe um (dentre vários) argumento contrário à esta proposta que diz que dessa forma os produtos sairiam mais caro para os consumidores - visto que seria agregado o valor de coleta e destinação do lixo. Porém o que pode se constatar pela prática é exatamente o contrário: a competitividade do mercado leva as empresas a buscarem soluções viáveis em suas logísticas, fazendo uso de menos embalagem e de materiais de fácil reaproveitamento ou destinação. Ou seja, o produto sai mais barato para a empresa, para a natureza e para o consumidor - que pagará pelo produto e não pelo seu recipiente.

Um exemplo prático, cotidiano: queremos fazer um macarrão e para isso compramos um molho de tomate que vem numa embalagem de vidro com tampa metálica. 
Pensando no ciclo de vida desse produto, veremos uma grande série de produção, transporte e energia consumida desde a extração dos componentes para a fabricação do vidro e do metal, seu transporte, a fundição, moldagem, armazenamento, transporte até a fábrica de tomate - que por sua vez comprou o tomate de alguém que o plantou em algum outro lugar (visto a situação atual da agricultura, utilizando doses exageradas de agrotóxicos que por sua vez vêm em embalagens e são compostos de diversos produtos que vieram de algum lugar...). O agricultor que colheu esse tomate (provavelmente com meio mecânicos que dependem de máquinas enormes que precisam de combustíveis e foram produzidas em algum lugar com zilhões de peçinhas...), embalou, transportou até a fábrica de tomates onde eles foram desembalados para serem processados, espremidos, adicionados a outros elementos (por vezes não tão naturais) e então embalados com o pote de vidro e tampados com a tampa metálica (que também tem sua história...) para então serem transportados novamente até um mercado, expostos, comprados, transportados até nossa casa onde esperamos ansiosos e famintos - para, finalmente, fazermos o molho do nosso macarrão.

E o que faremos? Abriremos, jogaremos aquela polpa na panela e a embalagem direto no lixo.

Todo esse percurso oneroso, que envolve tantas pessoas, materiais e energia, serviram por alguns segundos e viraram lixo - do tipo altamente problemático. Se, por muita sorte, for destinado como resíduo reciclável (que é o próximo R), passará por um novo ciclo sem fim de processos: transporte até cooperativas, separação dos outros resíduos, transportes até empresa de reciclágem, fundição (quanta energia é gasta para fundir o vidro! Quanto calor liberado!), produção de um novo material chamado...? Talvez um novo potinho de vidro.


Assista esse vídeo bastante popular chamado "A História das Coisas" (dublado) e veja outros exemplos práticos. 

Parando para pensar um segundo no nosso amigo leiteiro, que simplesmente reutilizava a garrafinha de vidro, será que ele acreditaria em uma alucinação dessa proporção para fazer a mesma coisa?

Sim, reutilizar vem antes de reciclar!! Vem depois de reduzir!

E parando para pensar que comprando um tomate e gastando alguns minutos a mais mexendo a panela, estaríamos reduzindo (em muito) essa cadeia de desperdícios, o que faríamos? Se por acaso retirássemos algumas sementes antes de colocá-lo na panela e plantássemos em qualquer pedaço de terra, ainda teríamos a grande sorte de fazer um molho natural - de primeira - depois de alguns meses e durante vários, com pouquíssimo gasto de energia e de outros recursos naturais. Sem produção de lixo.

Daí nos pegamos dizendo: mas fazer com tomate dá muito trabalho, mais fácil é comprar o molho pronto. Mais ‘fácil’ para o consumidor final unicamente (será mesmo?), assim como menos nutritivo, mais tóxico, mais poluente. Será que os ambientalistas-eco-chatos são realmente chatos ou os chamamos assim simplesmente porque não queremos assumir a nossa ignorância?

Não há problemas em embalagens, inclusive viabilizaram, em um dado momento, o crescimento de nossas cidades. Atualmente, permite que pessoas que moram num lugar onde não há tomates façam nossa receita de macarrão. Desde que não decidam comê-lo todo dia (principalmente se for com carne), é um ganho interessante.

Mas daí seria preciso entrar em todo um capítulo sobre a relação entre a alimentação e a socidade/cidade/cultura/tudo, que não é a pauta de hoje. Mas foi a pauta de uma escritora particularmente interessante chamada Carolyn Steel, pessoa extremamente gentil cujo livro “Hungry City. How Food Shapes our Life” ("Cidade faminta. Como a comida molda nossa vida") trata sabiamente do assunto. Abaixo uma palestra dela no site TED.com, que explica suas ideias centrais (legendas em português).



Reusar também significa dar novo fim às roupas que não usamos mais, repassando para outras pessoas (é saudável, não vergonhoso), comprar livro em sebos, trocar! Significa pensar duas vezes antes de colocar qualquer coisa no lixo de rejeitos pois, olhando com olhos atentos, é possível achar tesouros jogados fora.

Um exemplo prático de reutilização é da ONG Emmaus - que atualmente conta com 300 instalações em 36 paises - que se aproveita de resíduos (eletrodomésticos, roupas, bicicletas, brinquedos, louças etc) que são restaurados e revendidos por preços baixos, gerando renda e re-inserindo na sociedade pessoas com ‘dificuldades sociais’ (como drogas, ex-presidiários, moradores de rua etc). Existem muitos outros exemplos como este para nos lembrar que o mais importante é não esperar que venham buscar e ‘esconder’ o que jogamos fora. A logística reversa também passa por nós.

Uma solução vergonhosa para o lixo utilizada por vários países europeus há pouco tempo foi a “doação” de computadores e outros aparelhos eletrônicos (já ultrapassados) para países africanos onde essa tecnologia mal havia chegado. Foi vendida uma bela imagem de generosidade, comprada por muitos cidadãos ‘desavisados’. Por trás dessa imagem estava uma maneira de se livrar de um lixo altamente tóxico e complicado de tratar, enviado aos montes para países que estavam muito mais longe de resolverem a equação. Poucos computadores funcionavam (foi preciso muita gambiarra) além de não haver formação técnica no local que os pudessem consertar e logo montes de lixo de alta periculosidade estavam sem destinação, intoxicando povoados inteiros com essa “generosidade” camufladora. Foi feito um documentário sobre o assunto chamado The Digital Dump, cujo trailer está aí em cima (em inglês, mas as imagens já são fortes). 

Não tenha pena, reflita. Não tenha culpa, aja!

Não pensem que essa realidade está tão longe de nós. Quem não se lembra da época em que o Brasil importava pneus ‘semi-novos’ da Europa, vendidos por aqui bem mais baratos? A legislação brasileira era mais permissiva quanto ao desgaste dos pneus do que a européia e SIM, COMPRAMOS toneladas de pneus que logo iam para a pilha de entulhos sem destinação.

Não está convencido? Para onde vai o seu entulho? Para onde vai o lixo das cidades grandes? Porque são frequentes os casos de edificações condenadas por serem construídas sobre lixões? Quantos celulares sua família tem? O que vai fazer com eles? Quem nunca ouviu falar na Ilha das Flores? O popular documentário de Jorge Furtado pode ser visto (e revisto) aí ao lado.

Mistério revelado: O lixo vai para algum lugar. Responsabilize-se!
R3: RECICLAR
Reciclar é a última alternativa para o resíduo sólido antes que ele vire rejeito (ou seja, tenha que ser descartado em algum lugar).

Para que a reciclagem seja possível é necessário que exista uma estrutura de coleta de lixo eficiente, assim como uma campanha abrangente de sensibilização da população para a triagem dos resíduos produzidos. E uma fiscalização intensiva, inclusve das empresas - grandes produtores de resíduos!

Em alguns países, a questão da triagem é levada extremamente à sério e os ganhos com o lixo são revertidos para a sociedade.

Vejamos  o exemplo da reciclagem em algumas cidades suecas, apresentando o caso específico de Norrköping.

Como é feita a coleta?
Existem diversas categorias de coleta de materiais.

Containers residenciais para
 lixo orgânico e reciclável.
Embalagens e rejeitos
A maior parte é coletada diretamente nas residências, que recebem gratuitamente containers para a correta disposição do lixo.

Divisão do lucro
As garrafas plásticas e de vidro podem ser depositadas em supermercados rendendo créditos para a compra no supermercado (ou mesmo dinheiro) através de um sistema interessante de maquinaria , bastante simples e sofisiticada, que reconhece o tipo de embalagem e credita. Cada pessoa é ativamente responsável pela triagem. As garrafas de vidro são re-utilizadas. Pilhas e baterias também podem ser descartadas nesses locais.
Pontos de coleta em supermercados.

Coleta Especial
Além disso, no começo do ano é entregue um calendário com a passagem da coleta ‘especial’, que leva restos de tintas e solventes, óleos de cozinha (armazenados em garrafas), medicamentos vencidos e outros produtos tóxicos.

Eletrônicos, podas de árvores e restos maiores
Existem pontos para entrega do lixo de grande porte, que é armazenado no local e vendido para diferentes empresas. Todas as atividades empresariais e comerciais que ali depositam seu lixo (independente do tamanho) pagam uma taxa - um tanto baixa -  de tratamento de lixo. O controle é feito através de um cartão eletrônico. Essa taxa não reside sobre pessoas trazendo lixo domiciliar.

Ponto central de entrega de lixo em Norrköping (Suécia).
Os produtos eletrônicos são vendidos para empresas que reaproveitam as peças em bom estado para montar novos aparelhos e reparos, descartando de forma correta o que não pode ser reaproveitado (desmontando o aparelho e fazendo a triagem dos materiais).

Os restos de metais, plásticos, vidro e outros produtos altamente recicláveis são vendidos para empresas especializadas, que inserem esses materiais em um novo ciclo de vida.

Os restos de podas, madeira, casca de árvores e cerragem (provenientes de indústrias principalmente), assim como os rejeitos que não podem ser tratados (ou não foram devidamente triados) são enviados para industrias de incineração, onde passam por nova triagem que ainda separa alguns tipos de metais antes que sejam enviados aos fornos. Os produtos são queimados em uma temperatura tão elevada que eliminam os gases poluentes e outras toxinas, tendo como rejeitos: vapor d’água, cinzas (que podem ser devolvidas à natureza e serão decompostas) e partículas leves (essas sim são rejeitos que devem ser depositados de maneira correta, pois ainda não existe tecnologia para tratá-los. Trata-se de uma fração infinitamente menor que a pilha inicial de resíduos).

Usina de incineração e-on
O objetivo da queima, além de resolver o problema dos resíduos, é a produção de energia (através de pistões movidos pelo ar aquecido) e de água quente, que será enviada para as edificações da cidade via complexa canalização isolada termicamente. Vale lembrar que trata-se de um país de invernos rigorosos, o que justifica ainda mais a queima para produção de toda forma de calor.



Uma alternativa à esse tipo de industria está sendo desenvolvida no Brasil, mas a ideia é um pouco diferente: produzir materiais para a construção fazendo uso dos rejeitos, do lixo orgânico e seco, resolvendo assim dois grandes problemas atuais: habitação e lixo. É uma iniciativa pioneira de usinas limpas, que já foi reconhecida internacionalmente mas que ainda encontra dificuldade para se infiltrar na realidade brasileira, mal-acostumada a não querer discutir assuntos tão vitais. Imagens da usina e do material de construção resultante nas imagens ao lado.

Resíduos Orgânicos
Essa categoria de resíduo é provavelmente a mais fácil de ser tratada, desde que não seja misturada com o resto do lixo. Basta colocá-lo de volta na terra e a natureza faz o serviço rapidamente, se aproveitando dos nutrientes para o crescimento de novas plantas.
Além disso, políticas de educação para a compostagem estão sendo difundidas em diversos países e de repente as pessoas começam a se lembrar de como é fácil - e importante! - aprender a cultivar a terra.  O resultado da compostagem (que pode ser feita com auxílio de minhocas ou não) é adubo da melhor qualidade, tanto líquido quanto sólido, que poderá ser misturado em vasos ou despejado na natureza.

Países europeus, ao se depararem com a crise econômica, viram sua população voltar seus olhos para seus jardins e plantarem seus próprios alimentos novamente, vendendo o excesso da produção. Eis uma riqueza simples de ser explorada e extremamente saudável. Alimento ‘orgânico’ virou uma marca chique de produtos caros, mas lembre-se: são apenas produtos naturais, que qualquer um pode ter em casa com um mínimo de instrução e à um preço baixíssimo.

Aliás, antigamente no Brasil a composição da casa tradicional, colonial, incluia sempre um quintal no fundo do lote, onde eram plantadas árvores frutíferas e outros alimentos; diferenciado dos jardins na frente do lote de casas maiores, esses sim voltados para o social, para agradar os olhos mais que ao estômago. Porque hoje não é mais assim?

E porque as escolas não ensinam disciplinas práticas básicas para a sobrevivência humana (plantar, colher, fazer fogo, viver em sociedade, consertar a bicicleta, fazer roupas, filtrar água da chuva e reutilizar etc) em complemento às disciplinas teóricas (de pouca aplicação)? Será que temos medo de que pessoas instruídas demais deixem de ser consumidores cegos?! Que saibam exigir qualidade, saibam viver bem em tempos de crises, sejam independentes demais? Bons consumidores aumentariam a qualidade da oferta e consequentemente da procura. Porque não?


Ao lado, um vídeo que apresenta duas técnicas importantes de tratamento caseiro dos resíduos orgânicos: a compostagem e o minhocário.

Para saber mais sobre minhocário, experimente visitar o site Minhocasa ou ainda faça você mesmo seu minhocário. Existem diversos vídeos explicativos na internet.
Também existem empresas especializadas no tratamento desse resíduo, que produzem adubo em grande quantidade e revendem para prefeituras e particulares. É uma opção para quem não quer mesmo chegar perto da terra...


Para conhecer mais sobre a compostagem as referências também são muitas, como o site português Hortadaformiga que ensina a fazer o modelo ao lado para casas com quintal.

No site da CETESB, um pouco mais sobre o licenciamento de uma usina de compostagem.
EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO
Educar para reciclar mentes!

Sem dúvidas educação entra com força total para possibilitar a redução do lixo, o reuso e a trigem para reciclagem. Educação deveria começar com a tomada de consciência de que tratar o lixo é “obrigação” de todos. E se o depósito fosse ao lado de nossas casas, será que não pensariamos em triar? É ao lado da casa de alguém - ou talvez de onde plantam seus alimentos. É preciso exigir, é preciso agir.

Um exemplo interessante de abordagem municipal sobre a educação para a redução do lixo vem de Rennes, na França. A cidade é exemplo de comunicação em todos os níveis de administração pública e no lixo não poderia ser diferente. Uma série de campanhas tornaram o sistema da cidade extremamente eficaz. Campanhas essas que falam de reciclagem, de compostagem (com incentivos financeiros para condomínios que adotem a prática, por exemplo), de redução do consumo de energia etc.


COMPRA COLETIVA
Um dos produtos comprados,
o Ecopo - copo de papel.
Uma experiência recente de inovação foi proposta pela admnistração do Jardim Botânico do Rio de Janeiro que selecionou os produtos mais utilizados pela empresa (como copos de plástico, folhas de papel etc) e propôs à outras empresas públicas a ideia de realizarem uma compra coletiva. Com isso foi possível, através de pregão - e após muito esforço admnistrativo e burocrático que uma ‘primeira vez’ exige -, conseguir preços extremamente competitivos de produtos sustentáveis, já que comprados em grande escala. Para a próxima compra, já surgiram diversos outros interessados em participar, permitindo ainda mais a redução dos preços - e quem ganha é o ambiente!

Os valores exatos dessa diferença serão disponibilizados em breve (é notícia tão recente que ainda estão fechando o balanço).

De onde surgiu essa ideia do Jardim Botânico? De um programa muito interessante chamado A3P : Agenda Ambiental na Administração Pública que “visa implementar a gestão socioambiental sustentável das atividades administrativas e operacionais do Governo. A A3P tem como princípios a inserção dos critérios ambientais; que vão desde uma mudança nos investimentos, compras e contratação de serviços pelo governo; até uma gestão adequada dos resíduos gerados e dos recursos naturais utilizados tendo como principal objetivo a melhoria na qualidade de vida no ambiente de trabalho.

A A3P é uma decisão voluntária respondendo à compreensão de que o Governo Federal possui um papel estratégico na revisão dos padrões de produção e consumo e na adoção de novos referenciais em busca da sustentabilidade socioambiental.”

SIMPLIFICAÇÃO
Simplificar a composição dos produtos garante que este tenha maior chance de ser reciclado no final. A complexidade trouxe grandes progressos em diversas áreas, como o setor automobilístico e  informática; mas por outro lado gerou resíduos de uma complexidade tão enorme que ainda não somos capazes de separar os diferentes materiais e realizar uma reciclagem completa. Simplicidade dos produtos com redução dos materiais e iliminação daqueles tóxicos é um grande passo para diminuirmos a polução tóxica altamente destrutiva do nosso lixo.

Simplificação que poderia ser utilizada, por exemplo, ao fazer-se obrigatório o “design universal”, já citado anteriormente, em produtos básicos que não influenciam no funcionamento de aparelhos ou escolha de marcas e modelos. Por exemplo, carregadores universais para qualquer tipo de aparelho de mesma função, independente da marca. Também podemos exigir uma simplificação da cadeia de produção, diminuindo a distância de viagem dos produtos ao consumir mais produtos locais.

POLUIÇÃO
Por vezes, o lixo polui até antes de virar lixo!
Na realidade a poluição após descarte é mais facilmente controlável, pois as tecnologias para fazê-lo (em aterros, por exemplo) já são mais conhecidas.

E a poluição antes do descarte?
Um exemplo de poluição por toxinas a qual nos expomos vem da indústria de cosméticos. Até produtos infantis contêm produtos considerados cancerígenos e poucas dessas substâncias foram realmente testadas. Principalmente, não foram testadas em conjunto com as outras dezenas de substâncias que passamos em nosso corpo diariamente. O vídeo ao lado A História dos Cosméticos (em português) trata do assunto didaticamente de forma bem interessante.

O site americano EWG's Skin Deep preocupado com o assunto, catalogou mais de 69 mil produtos que utilizamos em contato com nosso corpo diariamente (shampoos, cremes, maquilagem, loção barbeadora, desodorantes, produtos infantis...) e os classificou quanto à toxidade dos componentes.  Surpreenda-se.

Outra contaminação muito conhecida, é a dos ‘produtos que emitem ondas’: wi-fi, blueray, telefonia celular. Ainda não se sabe os efeitos que nossa proximidade com as fontes de emissão podem causar, mas a “Agência Nacional Francesa de Segurança Sanitária, da Alimentação, do Meio Ambiente e do Trabalho” (AFSSET) recomenda que mantenhamos os aparelhos celular ao menos a 1 metro do corpo quando não estiverem sendo usados e desaconselha o uso por crianças. Diversos países fazem pesquisas à respeito, e os resultados ainda são incertos - falta amostragem e a variedade que já é grande demais continua em expansão. São os custos e incertezas da tecnologia de ponta.

Claro que essas informações sobre toxidade não deverão nos deixar em pânico ou excluir qualquer item da vida moderna, mas apenas nos causar reflexão e orientar nossas escolhas. Deixa-se a inocência do desconhecimento rumo ao debate.

Visite o site do CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem) e entenda mais sobre reciclagem, localize empresas, sucateiros e cooperativas que compram materiais recicláveis e todo outro tipo de lixo. Dê uma olhada na sessão de manuais, existem alguns interessantes à venda.

Quer conversar mais? Escreva um e-mail para projetosjbv@gmail.com, ou ainda cadastre-se como co-criador e deixe sua opinião/observação/referências aqui no site.



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[i] Minidicionário Houaiss

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