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Rio Jaguari-Mirim. Foto: Fritz Nagib |
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ÁGUA
Provavelmente o elemento mais vital para nossa sobrevivência (e do planeta como um todo). Nosso corpo possui 70% de água em sua composição: Somos feitos de água!
Na sessão sobre lixo, tratamos da água potável, engarrafada. Aqui não trataremos da água enquanto bebida: trataremos dos corpos d'água, rios, córregos e lagos; e da maneira em que atravessam a paisagem e nossa cidade.
PAISAGEM
A região geográfica em que São João da Boa Vista está inserida é uma grande fonte de águas límpidas, potáveis e até medicinais, sulfurosas. É uma região de poços riquíssimos, onde muitos vêm buscar água desde os tempos imperiais. Basta conferir o nome das cidades: Poços de Caldas - que nada mais eram do que os poços que alimentavam a cidade de Caldas -, Poçinhos do Rio Verde, Águas da Prata.
Mas São João, que é 'da Boa Vista' e não 'da Boa Água', não deveria se preocupar com essa riqueza?
É claro que sim.
A preservação dos mananciais de água e do lençol freático é preocupação de todos e deve ser ainda maior por parte daqueles que vivem perto das fontes e são responsáveis pela qualidade que chega aos outros. Se as cidades vizinhas não cuidarem de suas fontes, todos serão diretamente afetados. Se não cuidarem do rio, esse poderá chegar ao município contaminado. São João pode não ser a cidade das maiores fontes, mas é sim parte dessa região.
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Alagamento em dez/2011. Foto de Bruno Monteiro (Fala São João) |
Como assim?
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Alagamento em dez/2011. Foto de Vanessa Munhoz (Fala São João) |
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Foto da inundação ocorrida no início de 2011. |
Dizem as más línguas que em breve nossa competição pela água será com a indústria produtora de alimentos, que não só consome altíssimas quantidades mas também polui uma quantidade inestimável de água todos os dias.
Precisamos preservar essa riqueza. De quebra, podemos utilizá-la para o bem. Para o turismo, o consumo, o lazer, para se deslumbrar com as paisagens e tirar belas fotos.
CIDADE
Então porque será que quando chega no perímetro urbano essa riqueza toda 'transborda', incomoda? Porque um dia resolvemos virar as costas para os rios?
O córrego São João, que atravessa nossa cidade: como poderia virar um grande ponto positivo da mesma, ao invés de ser considerado um depósito de lixo, doenças, de animais peçonhentos - uma vergonha, para qual as casas viram as costas e contra o qual elevam muros altos? Morar perto de um rio pode e deve ser uma grande vantagem. Sem medo de enchentes e de contaminação.
Em algumas épocas da história os rios eram extremamente valorizados. As cidades eram sempre construídas à beira deles, que serviam para abastecimento, limpeza e mais tarde irrigação. Nessa época a produção de alimentos acontecia junto às cidades, o que justificava ainda mais a proximidade - raramente é o caso hoje em dia.
Agora queremos água canalizada e só na torneira. Perto do rio construímos muros - assim os insetos não entrarão. Nossa relação com a água reduziu-se e empobreceu-se, tornamos essa fonte um lugar de despejo, um lugar sujo à se evitar. Também não sabemos mais plantar, produzir alimentos e toda essa desvalorização das águas se faz possível.
Algumas imagens do 'córrego-encrenca', que causou a enchente das fotos lá em cima:
O córrego São João se rebela porque não o deixamos mais passar e não cuidamos de suas margens! Já o rio Jaguari-Mirim, apesar de ser de maior porte, costuma dar menos 'problema', pois tem sua mata ciliar melhor preservada, atravessando com um certo charme o clube Esportiva (como pode ser visto na foto inicial dessa página).
As pesquisas mostram que a tendência do córrego é encher cada vez mais. E qual nossa atitude quanto à isso? A artificialização. Criar pequenos lagos pra todo lado tentando conter parte da água quando a situação estiver mais crítica; asfaltar o leito do rio em outras partes como forma de controle, criar parques lineares acompanhando suas margens, que muitas vezes são lineares demais. O rio natural é curvo, deveríamos falar em "parques sinuosos", isso sim. Ao linearizar o rio, a velocidade da água aumenta causando mais problemas para a cidade.
A ideia de criar parques é uma ótima maneira de conservar as matas ciliares e criar novamente uma proximidade da população com o rio, que garantirá sua conservação. Desde que esses parques sejam pensados para serem realmente matas ciliares (não jardins ornamentais ou gramados) e que a estrutura do parque mantenha-se a uma distância mínima do seu leito, propondo atividades que tragam vida para a área e evitem o abandono e depredação.
Já a artificialização do rio é um assunto delicado.
Em algumas cidades, principalmente de grande porte, a artificialização tornou-se uma ação necessária pois seria extremamente difícil ter outro tipo de atitude estando a malha urbana densamente ocupada. Nesse caso, acontece uma grande operação para construir uma calha de grandes proporções (ou mesmo uma tubulação gigante para atravessar sob as ruas) por onde a água continuará escoando. As consequências são a destruição do ambiente natural (algas, peixes etc), a redução ou anulamento da permeabilidade (que permitiria que a água aos poucos se infiltrasse na terra, reduzindo o volume de água na superfície e aumentando o reservatório subterrâneo), o aumento da poluição.
Em São João, seria a melhor alternativa?
Para responder essa pergunta seria preciso estudos específicos para cada situação. É preciso também considerar aspectos financeiros e, principalmente, ambientais. Outras questões:
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Plano Diretor de Macrodrenagem Situação das margens do Córrego São João. |
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Plano Diretor de Macrodrenagem Situação das margens do Córrego São João. |
- quanto tempo a artificialização do leito poderá suportar o volume d'água, em ascenção, e o que seria feito depois?
- qual será o efeito causado pelo aumento da população urbana, das construções e da necessidade de drenagem? Para onde irá escorrer essa água?
Esse é um outro assunto importantíssimo. São João não possui, em seu plano diretor, nenhuma regra sobre a área dos lotes que deveria ser permeáveis. A ocupação do solo se dá livremente e a maioria das residência evita ao máximo deixar um pedaçinho do solo exposto, não asfaltado, com terra a vista ou um belo jardim. Com isso a água da chuva não encontra lugar nenhum para escoar e acaba entrando pelas tubulações de águas pluviais que levam para onde? Para os corpos d'água! Se a legislação fosse menos permissiva, parte desse problema poderia ser resolvido assim que a chuva caísse, infiltrando direto no solo e não indo parar nos rios. Se algumas regiões inundam, a culpa é de todos nós! Pare e pense.
É preciso desenvolver o Plano Diretor nesse sentido, relembrando que originalmente este contava com normas sobre o assunto que foram vetadas pela câmara municipal. Está em tempo de fazer pequenas (grandes) correções quanto à permeabilidade do solo.
Pois como pré-estudo fica a reflexão: existem alternativas que não incluem a artificialização e que poderiam trazer benefícios imensos à curto e longo prazo. É possível sim encontrar alternativas mais 'pacificas' com o meio ambiente, mesmo que talvez elas pareçam mais trabalhosas. Em alguns casos, será preciso pensar em revisões urbanas que talvez incluam pequenas desapropriações. O que por um lado parece algo desagradável, mas por outro poderá possibilitar a remoção de pessoas para locais fora da áreas de risco e ainda poderá ampliar o espaço livre na cidade dedicado à população como um todo, trazendo novos espaços de lazer.

Um exemplo positivo, dentre muitos, é do projeto Beira-Rio de Piracicaba [i], que propõe uma nova relação com o rio da cidade, que foi valorizado e re-integrado à cidade. O projeto contou com bastante poesia e lógica ao definir a estratégia a ser seguida pela cidade.
ALIMENTAÇÃO
EDUCAR - espalhando conhecimento!
Assunto mais cotidiano, impossível! Difícil é categorizá-lo, poderia estar aqui em meio ambiente ou em educação. Que fique nos dois!
Nessas últimas décadas estão surgindo diversos especialistas em 'comida'. Não trata-se de chefes apenas, mas estudiosos do assunto com uma visão extremamente reveladora da situação mundial. A má alimentação é a causa de grande parte das doenças da humanidade e da provável redução na expectativa de vida nos países com alto grau de sedentarismo e obesidade.
Um vídeo que trata do assunto com grande carísma é o da palestra de Jamie Oliver no TED (legendas em português), em que fala sobre a péssima alimentação dos americanos e ingleses, que desaprenderam a comer e cozinhar e estão assim condenando seus filhos.
Ele próprio acredita e estimula sua teoria através da campanha "Food Revolution" (revolução da comida) em que seria preciso ensinar uma receita à uma pessoa que ensinaria à duas que ensinariam quatro... e rapidamente o efeito dominó melhoraria a qualidade alimentar - e de vida - da população. E porque não?
E se tivéssemos maior preocupação em educar os jovens sobre os alimentos na escola? No vídeo acima, Jamie mostra a falta de conhecimento das crianças sobre os alimentos - de onde vêem, o que são? Pois não é privilégio de países desenvolvidos, no vídeo apresentado na página sobre lixo, no tópico 'preciso da imagem que me vendem' várias crianças brasileiras apresentam a mesma falta de conhecimento. Teste suas crianças.
Não precisamos chegar aos padrões norte-americanos de obesidade para começarmos à pensar no assunto.
"A população brasileira está ficando mais gorda e em velocidade acelerada. O excesso de peso já atinge metade da população adulta; uma em cada três crianças (de 5 a 9 anos); e um quinto dos adolescentes no País, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)." - Fonte (ago/2010)
ENVENENAMENTO
Cada brasileiro consome em média 5,2 litros de agrotóxicos por ano (o maior consumidor MUNDIAL de agrotóxicos desde 2008). Os agrotóxicos no Brasil têm estímulos fiscais para serem utilizados. As empresas que produzem sementes transgênicas cobram direitos autorais dos agricultores, pois essas são patentiadas.
O uso de transgênicos exige o uso de herbicidas e pesticidas, que fazem parte do 'pacote básico' vendido ao agricultor. As sementes 'crioulas' (naturais) estão desaparecendo. Essas sim é de patente da natureza, não de uma multinacional.
(dados retirados dos vídeos abaixo)
E para essa situação, qual seria a saída?
Atualmente, trata-se de um enorme problema internacional, já relatado à muito tempo por escritores como Daniel Quinn que dizia que o nosso sistema começou à partir do momento em que descobriram ser possível trancar a comida. Os donos da chave viraram líderes. Realmente, existe forma mais eficiente de controlar a população (mundial!) do que controlando seu alimento? O pior disso é que nós compramos e acreditamos nesse tipo de revolução verde.
Alguns vídeos abaixos tratam dessa questão, da criação de patente nos nossos alimentos e do domínio assustador de multinacionais.
Este primeiro vídeo, brasileiro, trata do assunto com bastante propriedade e lembra de como a cultura tradicional, natural (atualmente chamada de orgânica) é infinitamente superior, em qualidade, socialmente, em padrões de saúde para quem planta e quem consume. É um pouco longo, mas nos permite dar um primeiro passo para longe da ignorância.
(com legendas em português)
FAÇA VOCÊ MESMO
Na Inglaterra, durante a Segunda Guerra Mundia, surgiu o Ministério da Comida, cujo objetivo era educar as pessoas à produzirem seu próprio alimento e cozinharem com consciência nutricional para manterem-se saudáveis e sobreviverem no período de escassez.
No vídeo (em inglês), vemos uma dessas campanhas em que estimula-se a hora caseira - seja ela em pequenos espaços, quintais ou hortas comunitárias; seja qual for a idade daqueles que plantam. Trata-se de um evento social nobre, engrandecido pela propaganda.
"Mas toda tragédia, por pior que seja, sempre traz algo de bom, e neste caso é de como a 2ª guerra forçou centenas de milhares de pessoas a aprender a produzir a própria comida, a reciclar, a combater o desperdício e a manter uma dieta balanceada, noções tão respeitadas nos dias de hoje.
Esse esforço coletivo foi coordenado pelo governo, que criou em setembro de 1939 o Ministry of Food – o Ministério da Comida – com a missão de supervisionar o racionamento de comida e orientar a população, que se preparava para a Segunda Guerra.
Quando a guerra começou, o país produzia apenas um terço de sua comida. A idéia era mudar esse quadro, reduzindo drasticamente a dependência de importados. As primeiras grandes mudanças vieram no campo. Grande parte dos pastos foram transformados em plantações, quando se constatou que um acre de pasto rendia carne para alimentar duas pessoas, e que esse mesmo acre poderia dar batatas, cebolas e cenouras para alimentar até 40 pessoas.
A criação de porcos, frangos e ovelhas foi reduzida, só a de bovinos aumentou, por causa da demanda por leite. A mecanização floresceu, dezenas de milhares de mulheres e alunos de escolas ajudaram, voluntariamente, na lavoura e nas colheitas – juntamente com milhares de prisioneiros de guerra. A produção de trigo, batatas e cereais disparou.
Será que trata-se de um caso extremista de guerra? Pois na Grécia atual, durante a crise financeira, uma das primeiras atitudes da população foi voltar à cultivar o próprio alimento em seus jardins. A maneira mais eficiente e barata de conseguir comida de qualidade (talvez até uma renda extra).
No dia-a-dia, qual seria a melhor maneira de escapar de todos esses venenos internacionais?
Simplesmente voltar à uma escala anterior, humana, em que se comprava de pequenos agricultores alimentos saudáveis e frescos. Exiga fiscalização, tanto da agricultura quanto dos mercados. Compre o local, as frutas e legumes da época (que certamente precisarão de menos cuidado). De preferência nem compre - pegue aquelas que nascem nos pomares, cultive suas próprias árvores frutíferas (seu alimento), troque com os vizinhos.
Algumas dicas para facilitar nessa tarefa vão abaixo:
Nos vídeos ao lado, maneiras fáceis de fazer uma pequena horta na terra ou em vaso (para os que moram em apartamentos).
Ou ainda, aprenda a fazer uma horta 'pendurável', que pode ficar numa varando ou janela (ou onde tiver luz), virando um belo enfeite além de dar menos trabalho e ocupar menos espaço.
O site Sustentável na Prática traz passo-a-passos detalhadíssimos dessa e outras engenhocas, como aquecedor e fogão solar, argamassa de terra, reboco e pigmentos para tinta naturais, composteira etc. O projeto original de plantação na janela está explicado em uma palestra de Britta Riley (com legendas em português) que explica como desenvolveram um sistema de 'ideias coletivas' em que 18mil pessoas participam do melhoramento do jardim suspenso, trazendo novas ideias e compartilhando com os outros membros.
Algo parecido com o que esse site pretende ser, será que conseguiremos?
Leitura Complementar:
Absurdo da Agricultura Moderna - Dos fertilizantes químicos e agrotóxicos à biotecnologia - José A. Lutzenberger, Outubro de 1998
VEGETAÇÃO
São João é uma cidade bastante arborizada e pode se orgulhar disso. Ou já foi? O crescimento da cidade não tem considerado a arborização com força suficiente. Faltam leis, falta conhecimento e educação em diversas esferas. Da população, que deve entender o valor das árvores; da administração que deve incluí-las na legislação (o que inclui a taxa de ocupação do solo para loteamentos, regras de podagem e de manutenção da vegetação existente); dos profissionais atuando diretamente com essa vegetação, que precisam ser constantemente atualizados e educados para tal.
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François-Abélanet - Optical Illusion - Paris |
Ah, sim. Se dermos um passo além e incluirmos - além do conhecimento técnico - criatividade... poderemos criar grandes obras de arte! Seja na cidade, trazendo cores, odores, belas imagens e degustação gratuita à cada esquina. Seja em parques, unindo à vegetação das florestas um toque de 'humanidade' ao inserir arte no contexto natural. Apropriar sem destruir - valorizar!
Recentemente o grupo de discussão Fala São João tem dado bastante ênfase para a manutenção da vegetação. É excelente o trabalho de divulgação realizado pelo grupo, ficando apenas limitado à falta de informações técnicas disponíveis sobre a necessidade de algumas derrubadas. Porém foi responsável por levantar bandeiras que salvaram paisagens inestimáveis, como do Sítio das Macaubeiras.
Nem toda árvore precisa ser preservada, à partir do momento em que perde sua função ou acarreta riscos. Nesse caso, é preciso a visão de um especialista no assunto para a definição daquelas árvores que poderão, inclusive, ser substituídas em um contexto mais propício. A visão do técnico auxiliaria a escolha das espécias adequadas ao bioma local, as exigências de cada espécie quanto à espaço, regas e iluminação...
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Poda (?) em São João. Foto de Thalison Silva (Fala São João). |
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Sítio das Macaubeiras. Foto de Clara Gianelli (Fala São João) |
São João apresenta algumas áreas verdes na cidade, os 'bosques', ainda pouco utilizados. A valorização desses espaços (e criação de novos) poderia ser uma excelente forma de promover a revitalização de algumas áreas da cidade.
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Inhotim - Chris Burden. Fonte |
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Inhotim - Cildo Meireles. Fonte |
Para finalizar a conversa (por enquanto), um exemplo internacional de intervenção artística de excelente qualidade e baixo investimento financeiro: o Festival Goroda (na Rússia) reune principalmente jovens arquitetos duas vezes ao ano, durante o inverno e o verão, para a construção de objetos de arte feitos à partir da natureza. Um tema é dado, os projetos desenhados, escolhido o material e terreno: mãos à obra Durante o verão, são usados galhos, cordas, pedras e muita criatividade, formando excelentes intervenções. No inverno, a matéria prima quase exclusiva é a neve e o gelo. O resultado, pode ser conferido na apresentação de slides abaixo (em inglês, mas com imagens que falam por si só).
Qual seria o poder de um 'encontro' desse porte em São João da Boa Vista?
A Absurda Poda Anual - José A. Lutzenberger
Quer conversar mais? Escreva um e-mail para projetosjbv@gmail.com, ou ainda cadastre-se como co-criador e deixe sua opinião/observação/referências aqui no site.
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[i] Tese de mestrado publicada no Caderno PROARQ da Faculdade de Arquitetura e Ubanismo da UFRJ.
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